Soom

Fôlego
De Kim-Ki Duk
0 ½

Exibido no último Festival de Cannes, Fôlego segue um caminho de continuidade dos últimos filmes do coreano Kim-Ki Duk: a opção pelo silêncio, o filme de inspiração simbólica e metafísica, a incomunicabilidade entre os seres humanos. Alguns dos temas retornam a Casa Vazia: o vazio da família, as cenas da prisão. Uma mulher de meia-idade vive infeliz com um marido que a trai com outra mulher, e, ao assistir na televisão, uma reportagem sobre um assassino que tenta se suicidar na prisão, ela tenta ajudá-lo a “reacreditar” na vida. O tom esquemático com que Ki Duk explicita suas intenções (o tom de “poesia da miséria da condição humana”, como o marido é “insensível”, como os companheiros de cela do prisioneiro o afligem, etc, etc) quebra o encanto que havia em algumas das situações de Casa Vazia e mesmo de Primavera, Verão, Outono, mas de certa forma são coerentes com que o cineasta coreano vem buscando: denunciar a incomunicabilidade das relações no mundo contemporâneo e o vazio da existência de forma a “amaciar” o impacto do distanciamento, utilizando conceitos da filosofia zen como se fossem um manual de Paulo Coelho. Repito, em alguns momentos de seus filmes anteriores, isso até chegava a funcionar, embora o todo mostrasse as “rachaduras” de seu projeto, mas em Fôlego tudo aponta para uma espécie de pastiche de seu próprio cinema. Um exemplo são as cenas musicais dentro da prisão, longe do encanto e da plasticidade de por exemplo as quebras nos filmes de Tsai Ming-Liang. Ou ainda o final, um arremedo de Império dos Sentidos muito mal feito. Fôlego mostra, enfim, que o cinema de Ki Duk chegou numa encruzilhada, numa espécie de esgotamento, e que é preciso que o diretor mude para continuar o mesmo.

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