Little Miss Sunshine

Pequena Miss Sunshine
de Jonathan Dayton e Valerie Faris
DVD sab 26 21hs
* ½


Mesmo entrando com muito atraso nessa discussão, devo confessar que gostei mais de Pequena Miss Sunshine do que de Juno, já que os dois filmes foram tão comparados por serem “sopros de vitalidade” dentro de um cinema americano cada vez mais previsível e de grandes blockbusters. Claro que esse papo é uma grande bobagem, calcado num suposto cinema independente norte-americano (vide Sundance) e nas indicações ao Oscar. Mas o fato é que entre Juno e Pequena Miss Sushine, apesar das limitações dos dois projetos, eu ainda prefiro este último, porque enquanto Juno mostra uma menina rebelde que vai se “domesticando”, a família de Miss Sunshine, ao contrário, vai ficando cada vez mais rebelde, e cada vez mais consciente de que seu espaço não é o sistema. Além disso, ao contrário da auto-suficiência da “esperta” Juno, que tem sempre uma tirada genial e um trocadilho adulto, a família de Miss Sunshine cada vez mais percebe que não é como gostaria de ser.

Mas isso não é o suficiente para dizer que Pequena Miss Sunshine é um belo filme ou que seja digno de todos os elogios que recebeu. É uma versão desgastada de Melhor é Impossível, que trabalha com os temas da diferença e da necessidade de se unir para conviver com as (nossas) idiossincrasias de forma muito mais interessante (aliás com o mesmo Gregg Kinnear). É uma variante de uma screwball comedy, e o que me surpreendeu é que à medida que avança para o final, o filme vai melhorando. Os primeiros trinta minutos são uma bobagem só: o diálogo na cozinha com a família antes de ir para a viagem e os primeiros minutos da viagem de carro são o típico cinema americano, em que tudo se resolve em diálogos fúteis, e sacadas de (falso) efeito. Mas a partir da morte do avô, o filme passa a entrar nos eixos, inclusive com uma bela sequência em que o filho passa a falar. (vou colocar duas fotos que mostram um campo-contracampo que revela que os diretores sabem enquadrar…)

Com todos os atropelos dignos de uma “comédia maluca”, a família (ou o que sobrou dela) consegue chegar ao tal concurso de beleza. A pequena Olive nitidamente é menos preparada do que suas concorrentes. A família chega a pensar em retirá-la do concurso, para evitar algum constrangimento para a menina. Mas aí surge a apresentação, e pelo menos para mim foi surpreendente. Foi uma simples e bela mensagem do que fica das pessoas com quem cruzamos pelo caminho da vida, e qual deve ser nossa reação diante dos desafios da vida. Quase como em A Solidão do Corredor de Fundo, a opção da família de Olive é debochar do sistema. Ou seja, a minha leitura é que se faz uma oportuna avacalhação do desejo pelo poder, uma reavaliação da obsessão do pai em ser sempre “vencedores”. Vencedores do quê? É como a história sobre Proust contado um pouco antes. Ou seja, apesar de um certo ranço de falsa criatividade, Pequena Miss Sunshine não é totalmente desprezível como – confesso – acreditava que seria.

Comentários

Anônimo disse…
Telecine, 27/04/2008 , 22h
**
Confesso que quase desisti do filme nos seus primeiros 30 minutos. Depois entendi que eles são essenciais para a compreensão da natureza tão distinta de cada um dos personagens do filme. A agonia pessoal de cada um deles associada a uma objetivo comum me parece que é a matéria-prima principal. A cena em que esquecem a menina no posto de gasolina é emblemática.
Anônimo disse…
Prezados amigos, não gosto do filme, a meu ver é uma enganação, pois a Abigail Breslin que faz o papel de Olive é a própria Miss Sunshine. E se vocês aprofundarem verão que o filme usa a Abgail como, foram usadas no passado a Shirley Temple e a Margaret O'Brein.O filme crítica uma situação que ele mesmo utiliza.

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