Ave Candeias (I): os institucionais 1

Quem rotula o cinema de Candeias de primitivo realmente não conhece nada do que este notável diretor produziu e é o que demonstra seus institucionais de início de carreira. Marcha para Oeste – Campo Grande e Corumbá, Jogos Noroestinos, Interlândia e Rodovias são típicos institucionais, de cerca de 10 min cada, financiados pelos governos locais, mostrando obras ou eventos de destaque da região. Ou seja, é o típico material em que Candeias trabalha como diretor contratado, provavelmente fruto de uma “cavagem”, em que é impossível mostrar um cinema mais pessoal. Mas o que é notável nesses institucionais é acompanhar que desde lá no início há uma indiscutível consciência técnica no cinema de Candeias, especialmente com a montagem e com a fotografia (é bom lembrar que em diversos de seus filmes posteriores de longa-metragem Candeias exerceu essas funções): cortes em movimento com combinação de espaço, montagem que combina planos estáticos com planos com panorâmicas, enquadramentos em diagonal com profundidade de campo alternado com outros frontais, etc, com nítida consciência tanto dos elementos internos do plano quanto (especialmente) da necessidade de conferir um ritmo próprio. O mais notável destes é o Rodovias. Primeiro por possuir um prólogo um tanto estranho focando, ainda que brevemente, as pessoas (o povo) que vivem ou trabalham ao longo dessas rodovias. E depois porque vários planos prenunciam um conjunto de recursos de Aopção, especialmente pela importância como o fluxo dos caminhões na estrada é utilizado para conferir uma dinâmica interna ao institucional. Em suma, apesar das naturais limitações deste tipo de produto, eles devem ser vistos no interior da filmografia de Candeias.

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