(FESTRIO 3) It´s a free world

Mundo Livre

De Ken Loach

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Depois de um certo tempo de ausência, resolvi voltar a assistir a um filme do Ken Loach, na verdade mais para provocar minha namorada do que um verdadeiro interesse pelo filme. Todas as “questões sociais” do cinema do Ken Loach estão lá: a questão dos imigrantes e das condições precárias de trabalho. Mas o que muda aqui (se é que muda...) talvez seja o ponto de vista. Agora, não é mais nem “daquele suposto distanciamento de terceira pessoa” nem do ponto de vista dos próprios “desfavorecidos”. Desta vez, o ponto de vista é de uma mulher de classe média que quer montar uma agência para contratar os imigrantes para vender (alugar?) para os empregadores. No fundo, não muda muito: é sobre o fracasso dessa mulher em promover melhores condições para esses trabalhadores porque o sistema é perverso. Mas há uma certa diferença: Ken Loach assume seu discurso de classe média. Ou seja, no final, o que reina, além das “boas intenções” é o individualismo dessa mulher. E daí tome todas as churumelas psicológicas (pressão da família – a mãe querendo que ela se estabilize e o pai querendo que os imigrantes voltem para onde vieram”, filho que sofre com a mãe ausente, carências afetivas, etc.) para tentar justificar os seus atos, mas no fundo fica explícito que essa mulher na verdade só quer se dar bem, muito mais do que ajudar quem quer que seja (i.e o fracasso é coletivo mas o sucesso é individual). Ou seja, é um filme um pouco mais ambíguo que os demais de Ken Loach, embora ainda todos os recursos de dramatização desses “fatos reais” sejam muito primários em relação ao que vem sendo feito em cinema (pensamos desde Rosetta até Jia Zhang-Ke). Mas de qualquer forma, em se tratando de Ken Loach, um avanço tímido. Quanto à artesania, a competência natural do realizador: atuações com energia, bom ritmo, enquadramento, etc, etc. O que me irritou mais foi o esboço de filme de suspense quando o menino é raptado, com um clima que parecia aqueles de filme do telecine. Mas confesso que eu tenho uma certa implicância com o autor.

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