curta do Kiarostami

O Coro

De Abbas Kiarostami

Emule, ter 18 8hs

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O Coro, um curta praticamente feito de encomenda para um instituto de crianças e adolescentes (se bem que Kiarostami realizou alguns trabalhos, sempre com liberdade para o instituto), é um curta que pode nos enganar por sua aparente simplicidade. Sua trama pode assim ser resumida: um senhor de idade tem um problema de surdez, de modo que ele só escuta os sons do mundo ao colocar no ouvido um pequeno aparelho. O mundo pode ser opressor, e a vida turbulenta e agitada da metrópole em geral nos leva a isso: os sons irritantes de quebra-estacas, rodas de carroças ou marteladas podem ser simplesmente apagados com esse mecanismo. Mas quando quer negociar preços com os vendedores ou se divertir com uma gralha de pombos, vale a pena ouvir. Mas essas outras coisas, não. Ou seja, este senhor possui a escolha de ouvir ou não ouvir.

 

Em paralelo a isso, há um comentário sobre a criação do artifício em relação à realidade, um comentário sobre a função do som no cinema. O ponto de audição do espectador é o mesmo do personagem, de modo que quando ele tira o aparelho, deixamos de ouvir, da mesma forma que o protagonista.

 

Na segunda metade, há uma outra estrutura narrativa, mas que se complementa e se molda à primeira. O velho vai para casa, e tira o aparelho, de modo que não ouve os irritantes barulhos de uma britadeira. No entanto, deixa de ouvir sua neta, que chega da escola. Forma-se um grupo na porta da casa, gritando para que o velho ouça. Mas ele não ouve. Mas as crianças insistem, mobilizam-se, crescem.

 

Interior e o exterior (o velho na casa e as crianças na rua); conflito de gerações (o velho e as crianças); som e silêncio; o cinema (a representação) e a vida: é dessa forma que, através de um uso simples da linguagem cinematográfica, Kiarostami promove uma pequena parábola moral. Deixar de ouvir passa a ser também estar só. Ouvir e sentir a vida em todas as suas imperfeições é estar aberto a suas possibilidades, é abrir as janelas da casa para ouvir as crianças se aconchegarem. Lindo esse pequeno curta de Kiarostami.

 

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