A noiva de Glomdal

A noiva de Glomdal

De Carl Dreyer

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Dreyer é um gênio. Com A Noiva de Glomdal, ele prova (como se fosse preciso provar), que ele poderia fazer qualquer tipo de filme, ou ainda, que se fosse para os Estados Unidos seria tão grande quanto Murnau. Um argumento nada original baseado num conto tradicional norueguês gerou uma quase obra-prima porque Dreyer conseguiu converter esse conto simples nos elementos tradicionais do seu cinema. Primeiro num domínio absoluto do ritmo, e ainda mais, da fotografia e do quadro. A disposição dos personagens dentro do quadro, especialmente nos interiores, e seus deslocamentos, já antecipam a estética de Ordet, ou mesmo de Gertrud. O tom realista da mise-en-scene (especialmente no trabalho com os atores) e o uso brilhante da profundidade de campo em 1926 mostram o quão distante Dreyer está do expressionismo alemão. É fantástico também como Dreyer usa as externas em contraponto com os interiores. Um certo clima bucólico está sempre presente no filme, e o uso da paisagem com profundidade de campo sempre nos encanta. Dreyer tbem alterna entre o plano geral e o plano próximo com muita sabedoria e elegância.

 

Glomdalsbruden é também uma homenagem ao cinema de Griffith (como os primeiros filmes do Dreyer, tipo Páginas do Livro de Satã, já o eram), no tom de fábula moral e especialmente na seqüência no rio, quando o personagem escapa de ser tragado pela correnteza. A habilidade da montagem (a impotência da heroína como paralelo à nossa própria) comprova que o cinema de Dreyer não é “hábil” e “moderno” por pura opção (i.e consciente, estética). (E também lembrou o seu curta da moto, posterior).

 

No final, como se não bastasse tudo isso, um corolário ético que demonstra que o filme está completamente alinhado às preocupações de Dreyer (ou seja, não é um filme de exceção): o vigário diz que não há como lutar contra os desígnios do amor. A cena da correnteza passa a ter outro sentido: o amor remove barreiras; só o tendo como base é possível ir contra a correnteza do mar e das coisas. As possíveis implicações políticas, sociais, de gênero, e especialmente de classe do filme caem por terra: o objetivo da filmografia do Dreyer é afirmar, de forma seca mas brilhante, que nada na vida vale mais do que o amor.

 

Comentários

Anônimo disse…
ei ikeda, tu baixou esse filme na internet ou saiu em dvd. fiquei a fim de ver. já viu "o homem deve respeitar a sua mulher"?
CFagundes disse…
Sugestão, meu caro Ikeda: bota o nome original dos filmes para que Luiz consiga baixar.
Outra coisa, como é que a cumbuca cinematográfica lida com a autenticidade da questão da ética frente à oportunidade de baixar filmes na Internet e adquirir piratas? É que estou louco para ver uma crítica sua sobre Tropa de Elite, ou Death Proof do Tarantino...afinal de contas, esses filmes estão sendo considerados como cinema.
Aproveito para deixar um beijo na boca do meu amigo Luiz, lá do além.
abs,
Anônimo disse…
COMENTARIOS DO CINECASULOFILO:
Caro Cris,
vou fazer então igual às críticas de O GLOBO: "Glomdalsbruden (no original)" .... kkkk
Outra: é interessante pensar sobre ética, pirataria e emule. Falei um pouco nisso num artigo que está para ser publicado na RevistaEtcetera, mas conefsso que aqui me dá uma certa preguiça, porque é assunto complexo. O emule no entanto não é pirataria, pois para consumo próprio você pode copiar e compartilhar um filme, o que não pode é COMERCIALIZAR essa cópia (mas há controvérsias...)
Sobre TROPA DE ELITE, eu te digo que estou muito mais curioso para ver FLORESTA DOS LAMENTOS ou LUZ SILENCIOSA do que o filme do Sr. Padilha. Com todo o respeito.
CFagundes disse…
Vou ver os filmes que vc recomenda, se ainda estiverem disponíveis. Com todo o respeito por mim ou pelo sr. Padilha? Se for por mim fico ofendido, se for um respeito pelo sr. Padilha também...kkkkk
abração.
Anônimo disse…
COMENTARIOS DO CINECASULOFILO,
Caro Cris,
com todo o respeito AO FILME, pois todo filme merece respeito. Até os do Truffaut!

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