curta Antonioni
Lo sguardo di Michelangelo
De Michelangelo Antonioni
Emule sab 15 11:45
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Sim, eu entendo que a realização de um curta pelo mitológico Antonioni em plenos 92 anos, com uma condição física debilitada, e o cuidado e o carinho visíveis em sua realização devam ser saudados. Entendo também que ele desenvolva alguns elementos caros à sua filmografia, como a relação com a arquitetura e um sentido extremamente moderno de um espaço físico, ou como o silêncio é utilizado ao longo de todo o curta. Vejo também como muito saudável um projeto de economia, simples, todo calcado na decupagem do olhar e na articulação do campo e contracampo, do trabalho da questão do olhar. Mas ainda assim não há como deixar de registrar um certo desencanto ao final desse trabalho. Inúmeros recursos, como as abundantes fusões e variações de foco, os contrastes posados entre claro e escuro, a música (especialmente no plano final do filme), a forma como Antonioni toca a estátua, e o próprio fato de ele caminhar e não chegar numa cadeira de rodas (como é o seu estado atual), me passaram uma impressão de ser um trabalho extremamente falso e posado sobre o interessante tema do artista refletindo sobre a criação do outro, e como, mesmo um grande mestre como Antonioni é pequeno em relação ao outro Michelangelo e, ainda mais, como é pequeno em relação à sua obra. Esse tom da “pequenez” no entanto, é quebrado com um tom suntuoso, tanto do filme, como do próprio Antonioni. Alguns recursos singelos de como o artista olha para a obra e o uso do silêncio me interessaram, mas em linhas gerais o tom (acadêmico) dado ao curta me aborreceu em muito, e fiquei fazendo relações com um curta do Lima Barreto chamado Santuário, que mostra um simples caboclo deslumbrado com as estátuas de Aleijadinho. Mil perdões a Antonioni, mas Santuário é muito mais consistente.
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