(FESTRIO5) ZOO
De Robinson Devor
Cine Glória sex 17:45
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Ingrata tarefa de falar sobre Zoo, docudrama de Robinson Devor sobre um
bizarro acontecimento numa cidadezinha americana: um homem morre de
hemorragia interna após manter relações sexuais com um cavalo. Fato real,
Devor tem em suas mãos a intenção de fazer um documentário. No entanto, ele
procura evitar qualquer sensacionalismo. Este parece ser o motivo para sua
radical decisão, em torno da qual se baseia toda a estrutura do filme: a de
recriar ficcionalmente, através de atores e de situações dramatizadas os
acontecimentos, enquanto coloca na voz-over alguns depoimentos das pessoas
envolvidas no caso.
Com isso, Devor dá o tom ao filme, que é o de um docudrama, meio nos moldes
de um Linha Direta. Mas há uma grande diferença: Devor quer dar um "contexto
maior" para o caso, vê o tema como uma oportunidade para (como em filmes
anteriores de sua filmografia) falar sobre como a solidão gera histórias de
amor incompreendidas. Esse gancho dá as maiores virtudes e dúvidas sobre o
tratamento do tema: de um lado, é interessante a abordagem humana e sensível
e o direito à voz que Devor dá aos "zoófilos"; por outro, acaba carregando
demais as "tintas amorosas do caso" e usando recursos um tanto bregas
(excesso de câmeras lentas, clima marcado pela música, etc). Ou seja, Zoo
acaba ficando mais para Max, mon amour do que para O Sangue das Bestas.
"A solidão gera histórias de amor incompreendidas". Com isso, mais que um
docudrama, Devor faz uma pequena elegia, um cântico de lamento, num tom
subjetivo que foge da objetividade dos acontecimentos do caso e se volta
para uma avaliação em círculos desse "deslocamento" em torno de si. Nisso,
Zoo é bastante curioso: com um enquadramento e movimentos de câmera
rigorosos, com uma fotografia que opta pelos tons mais "fúnebres", e com seu
ritmo lento, Zoo encena não tanto para "preservar a identidade dos
envolvidos" mas porque a criação dessa atmosfera em torno do qual houve o
episódio interessa mais ao realizador do que o episódio em si.
Esse "esteticismo" gera um filme frio, apesar de afetivo, mas também revela
suas incongruências, especialmente com um certo academicismo, que mesmo a
montagem elíptica e a estrutura ficção-documentário não conseguem esconder:
o uso da música pontuando os climas, a voz over, etc. No fundo, Devor faz um
filme intrigante, que acerta ao fugir do sensacionalismo do tema, mas ao
mesmo tempo que fica no meio do caminho de várias de suas intenções: ser uma
inventigação estética sobre a representação, preservar a identidade dos
envolvidos e ser um cântico de lamento sobre a dificuldade do amor na vida
contemporânea.
Por fim, o Cine Glória está exibindo filmes em projeção digital pela Rain,
mas com problemas. A luz vaza bizonhamente da cabine de projeção para a
sala, as legendas eletrônicas têm um "entorno" que cortam a parte inferior
da tela nos momentos de mais baixa luminosidade da cena e além do mais
ninguém avisa que a projeção é digital. Em resumo, se puderem, vejam o filme
em outra sala.
Detalhe dois: a primeira sessão de um filme brasileiro no festival foi
suspensa. Nome Próprio, do Murilo Salles simplesmente não passou no Odeon
hoje à tarde.
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