Eu não quero dormir sozinho
De Tsai Ming-Liang
** ½
Tsai parece caminhar em direção a uma radicalização da sua filmografia, com O Sabor da Melancia, e agora com este Eu não quero dormir sozinho. Alguns apontaram a necessidade de “mudar para continuar o mesmo”, e é mais ou menos isso o que o consagrado diretor procura. Mas o que me parece é que Tsai caminha para extrapolar em termos da construção narrativa e de um olhar sobre a imagem o que vinha trabalhando em seus filmes anteriores. É possível identificar diversos pontos de contato de Eu não quero dormir sozinho com seus filmes anteriores, mas também o é apontar rupturas. De um lado, a duração da imagem, em longos planos-sequência que, extrapolando o que já tínhamos visto em Goodbye Dragon Inn e A Hora da Partida, dão um sentido de paralisia. Por outro, na questão temática. A idéia do abandono aqui é contrastada com a importância do ”colchão” como sinal de afeto, até que tudo culmina no bonito plano final, uma espécie de plano-síntese do que o filme busca: uma possibilidade de um acalanto. E mais: a possibilidade de convívio com a diferença parece ser a chave para que os marginalizados personagens de Tsai vivam em um mundo menos solitário. Mas ainda assim, o diretor afirma todas as dificuldades desse meio do caminho, a partir de uma estrutura narrativa cheia de elipses, até mais sensorial e livre do que seus filmes anteriores. Ainda assim, não chega a ser um dos melhores trabalhos do diretor, soando irregular em alguns momentos, mas sem nunca deixar de ser fascinante. É isso o que posso dizer a partir de uma primeira visão do filme (urge revê-lo).
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