Tropa de Elite

Tropa de Elite

De José Padilha

Palácio 1 qua 10

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Afinal, vi Tropa de Elite. Achei o filme uma combinação de um institucional sobre o BOPE e uma história em quadrinhos sobre o Super-Homem. Institucional porque um bando de garotos após o filme deve querer se alistar no BOPE e me lembrei da minha época de Colégio Naval, em que eu cheguei a acreditar por um certo tempo que era mais apto ou preparado que as demais pessoas que não estavam lá. Isso acabou quando em uma das minhas folgas percebi que tinha dificuldade de atravessar a rua ou andar no centro da cidade, pois o trânsito era muito caótico. Me lembrei também da cena em Tropas Estelares, em que uma propaganda recruta jovens para morrer na guerra. Quadrinhos sobre o super-homem, porque se alguém assaltar o seu MP3 na rua, ligue para o BOPE, já que, se ele não resolver o seu problema, ele ficará sem solução. Isso fica claro em uma parte do filme, quando o Capitão Nascimento em voz-off diz “O Papa precisa do BOPE, o BOPE precisa de mim, e eu preciso de um substituto”. Essa frase também poderia ser lida de outra forma “Deus precisa do Papa, o Papa precisa do BOPE, e o BOPE precisa de mim”. Ou seja, o Capitão Nascimento é um Super-Homem, e o filme, no seu “realismo de fachada” é pura história em quadrinhos, inclusive na sua concepção de violência gráfica e nos “falsos dilemas existenciais” desse “falso-herói”.

 

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Para Padilha, a solução para o problema da violência no Rio de Janeiro parece ser a desumanização. Tropa de Elite pode ser visto como um filme sobre a desumanização de André Matias, e não é à toa que o filme termine com a execução do bandido pelo “novo capitão”. É um rito de passagem. Antes, vemos duas cenas que comprovam o novo estado de espírito de Matias: quando ele invade a xerox da PUC atrás da droga e quando destrói a passeata sobre a paz. Aliás, essa cena é a paradigmática do filme. É a cena mais extrema e niilista do filme: André Matias invade a passeata pela paz e chuta um dos estudantes. Em outro momento, ao subir o morro, o Capitão Nascimento interpela um estudante: “Estudante? É você quem financia o tráfico” E trata de dar mais pontapés e socos no tal estudante.

 

Parece ser assim que Padilha acha que iremos combater a criminalidade: na base da porrada. Matando os policiais corruptos, os traficantes, os estudantes, quem quer que seja. Por isso, Tropa de Elite é um filme fascista (sim!), porque é uma espécie de “Esquadrão da Morte” em que seus membros (os mais inteligentes, incorruptíveis e fortes – ou seja, super-heróis acima do bem e do mal) têm as suas conclusões para o combate do crime organizado e partem para a ação, sem se preocupar com nada mais. Ou seja, o filme não provoca um debate organizado, democrático, sobre essas questões, não se preocupa em ouvir os outros pontos-de-vista, em envolver a sociedade civil no processo. Não: vamos resolver tudo na base do terror, da desumanização e da porrada. O BOPE tem as soluções que uma sociedade fraca e corrupta não quer assumir.

 

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Tropa de Elite é um filme sobre o processo de desumanização de André Matias [por isso, meu ponto de vista é que o Capitão Nascimento não é “deus” ou um super-homem, e sim o diabo, um “demônio caído”, sub-demônio que incapaz de ingressar no “reino dos infernos” faz seu purgatório (ou seria, seu estágio probatório?) aqui nas favelas cariocas]. Esse processo de desumanização é baseado na escolha do substituto do Capitão Nascimento. Um deles (Neto) representa o coração; o outro (André Matias), a razão. Num outro off, Nascimento diz que o ideal seria ter os dois num só corpo.

 

E é isso o que ele irá fazer. Entre o coração e a razão, o Capitão Nascimento fecha com a razão. Quase às avessas, o filme conclui que o coração pode ser criado; a razão, não. No entanto, precisa haver um acontecimento que marque André Matias de tal forma, que este “ganhe um coração”. Lembramos a história de O Mágico de Oz, em que o homem de lata precisa ganhar um coração. Só que aqui é o contrário. O coração que André Matias precisa ganhar é de lata. Esse acontecimento é a morte de Neto, uma morte sanguinária, e que envolve também, sua namorada, a estudante da PUC e a roda dos seus amiguinhos. A morte provoca um sentimento de ódio e de vingança que irá transformar o personagem. É o ápice de seu processo de desumanização. Num off, Nascimento diz, “agora, Matias finalmente está pronto para ser um policial”. Ou seja, Tropa de Elite é o oposto de “Cinzas que Queimam”, de Nicholas Ray.

 

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Por outro lado, Tropa de Elite nos lembra como o cinema é fascinante, e nos ressalta a repercussão de um filme. O livro Elite da Tropa, em que o filme foi baseado, é tão polêmico quanto Tropa de Elite, e levantou uma certa discussão à época de seu lançamento. Mas nada que se compare ao impacto do filme. O poder de sedução das imagens e a popularização de seu discurso, fazem com que o filme tenha um alcance que o livro dificilmente poderia ter. Isso só nos lembra da responsabilidade do diretor, especialmente quando ele trata de questões que – mal ou bem – são diretamente relacionadas à nossa realidade, ao nosso dia-a-dia. Tropa de Elite é pura obra de ficção, mas ao mesmo tempo é difícil para um conjunto de pessoas que não possui um conhecimento prévio do poder manipulador dos elementos de linguagem do audiovisual separar uma cosia da outra, não se deixar seduzir pelo artifício da imagem.

 

Nisso, Tropa de Elite tem um ponto positivo. Ele não é um filme invisível: a visibilidade e a urgência de seu discurso são indiscutíveis. É um filme que levanta questões sobre o cinema, o Brasil, o “aqui e agora”. É um filme também cheio de um desejo ímpar de falar sobre isso, de dar a sua contribuição. Pode-se gostar ou não (eu, por exemplo, não gostei nada), mas deve-se defender (até a morte, usando o jargão do filme) o direito de ter sido feito.

 

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Houve uma época em que se comentou de um suposto recurso da coca-cola, que colocava, aleatoriamente no meio de um filme, frames de uma garrafa de coca-cola, imperceptíveis ao espectador, e que isso provocava um aumento da venda do produto ao término da sessão. Ficamos pensando: será que há frames do “caveirão”, símbolo do BOPE, espalhados ao longo do filme? Fiquei com vontade de inspecionar a cópia final do filme...

 

Comentários

Anônimo disse…
Hum.. o mais incrivel é q o filme ainda nao foi lançado e você me veem com uma critica de merda igual a essa?

"desumanização" É humano a quantidade de pessoas que morrem nessa cidade por causa desses filhos da putas desses traficantes? É humano o que eles fazem em nossas casas? Eles aprenderam desde de criança que roubar e matar pra eles é mais facil. Você acha que uma psicologa vai resolver? a pelo amor de deus.. pensa bem no que escreve, mas isso é um blog certo? ou seja; o dono mostra a sua opnião.
Só acho que você poderia raciocinar melhor!
Anônimo disse…
RESPOSTA DO CINECASULÓFILO:
Caro "anônimo",
bem vindo a este blog! O filme já foi lançado sim no RJ e SP, inclusive coloquei no cabeçalho da mensagem que o vi no Cine Palácio, no Rio, na quarta-feira dia 10, uma sessão normal.
Quanto à sua mensagem, respondo com três perguntas: 1) você é do BOPE? 2)você conhece um filme chamado PICKPOCKET? 3) e outro chamado CINZAS QUE QUEIMAM?
Se não veja!
Anônimo disse…
CONCORDO PLENAMENTE COM SEU DISCURSO, POIS APESAR DE NÃO TER VISTO NO CINEMA, PUDE ASSISTIR UMA PRÉVIA E SEI QUE NÃO DEVE TER MUDADO NADA.
MINHA MAIOR PREOCULPAÇÃO É COM A SOCIEADE QUE PODERÁ COMPRAR ESSA IDÉIA.IMAGINE SÓ OS JOVENS INGRESSANDO NESTE SONHO DE RESOLVER O PROBLEMA DA SOCIEDADE COM VIOLÊNCIA...COMO SE O PODER DO TRÁFICO FOSSE MANTIDO POR ALGUNS PAPELOTES DE MACONHA...
NÃO PODEMOS SER IGÊNUOS E NÃO PENSARMOS QUE ESTE PROBLEMA É BEM MAIOR, ASSIM PARTINDO DA EDUCAÇÃO DO PAÍS, DA POLÍTICA, E CLARO DESSE TERRORISMO "FASCISTA" QUE ESSA POLÍCIA DEFENDIDA E EXALTADA NO FILME PROVOCA.
NO RIO O CASO É BEM MAIS DIRETO, MAS O FILME TOMOU PROPORÇÕES ABSURDAS E IMORAIS PELO PAÍS INTEIRO E NO CASO DE FORTALEZA-CE HÁ POLICIAIS QUE ANDEI CONVERSANDO E PERCEBI O ENTUSIASMO QUE AGORA FOI DADO A ELES, COMO SE AGORA JUSTIFICASSE MAIS AINDA SEUS ATOS DE PURO DESRESPEITO HUMANO.
A EXISTÊNCIA DESTE FILME PROVOCARÁ UM SÉRIO IMPÁCTO NA SOCIEDADE E COM CERTEZA TORNOU-SE MUITO IMPORTANTE PARA A HISTÓRIA DO CINEMA BRASILEIRO.
MAS ACHARIA BEM MELHOR SE ELE NÃO TIVESSE EXISTIDO. "VICTOR DE MELO"
CFagundes disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse…
Ikeda e o tal de C. Fagundes: vão dormir que está tarde!
E C.Fagundes...como vc falou merda!
Anônimo disse…
Ah fala sério cara.
Não tiro seu direito de não ter gostado do filme não, cada um tem sua opinião. E também não falo que o filme é completamente correto não.
Mas em certos aspectos ele faz o que outros filmes não fazem. Pra começar, mostra a porra da corrupção dentro da polícia. Não to falando que o BOPE é a polícia incorruptível que tá aí pra salvar o país, mas pelo menos o filme mostra merda que a PM é.
Outra coisa: Coloca esses maconheirozinhos de merda, filinhos de papai que estudam em faculdades renomadas, no lugar que lhes pertence. A culpa do Brasil estar a merda que está hoje, parte também desses borra-botas, filhos da puta, da classe que tem mais dinheiro, e ficam financiando merda de tráfico.
Maconheiros de merda mesmo.

E pensar que esses dias ainda via na televisão um debate em que um estudante falava que o filme não podia mostrar essas coisas não, que a polícia não pode tratar estudantes assim não, porque eles não fazem nada.
Por isso o Brasil tá essa merda, porque os riquinhos maconheiros de hoje, serão a classe dominante amanhã...
Cara, o que mais me incomodou no filme foi exatamente isso: "Parece ser assim que Padilha acha que iremos combater a criminalidade: na base da porrada. Matando os policiais corruptos, os traficantes, os estudantes, quem quer que seja."
Durante o filme todo o cara sai por ai torturando e matando como quer e tal, e isso realmente me incomodou muito! Aliás, o que me incomodou mais foi a aceitação dos espectadores diante disso "É, mas tem que ser assim mesmo!" Eu realmente não acho que tenha que ser assim. Não é possível que a única saída seja simplesmente matar todo mundo que tenha algum envolvimento. Tudo bem, traficantes são filhos da puta, destroem famílias, etc etc e tal. Mas desde quando isso é motivo pra que o país vire um antro de policiais assassinos?! Caos total, cara. É a velha questão de combater o mal pela raiz...
OK, superando essa parte da violencia desmedida...
Eu também acho que pode até ser que certas questões do filme se apliquem ao Rio, por exemplo, onde realmente tem todo um crime organizado que gera consequencias pesadas e tal. No caso os estudantes podem até ser crucificados por "financiarem o tráfico", porque apesar de ser um comércio que existiria independente desse tipo de consumo, ainda sim eles estão fazendo parte de uma coisa que tá acabando com a cidade. Mas não acho que possa ser aplicável para o Brasil inteiro, onde em muitos lugares a droga vem de outros paises, por exemplo. E também não se pode simplesmente colocar a culpa da situação do pais em estudantes que fumam maconha não, vai muuuuito além disso. O consumo de drogas não deveria ser diretamente relacionado com o desenvolvimento do pais não.
E outra, até parece que a gente precisa ver um filme pra se ligar de quão corrupta a PM é, fora que da cabimento às já frequentes generalizações.
E vou parar por aqui, porque eu ainda comentar sobre o "endeusamento" do BOPE e do cap. Nascimento e sobre como realmente todos os rapazinhos (maconheiros, inclusive) saem do cinema dizendo "Caralho, quero ser do BOPE", mas nem valeria a pena.
Anônimo disse…
O filme não é baseado no livro, dado que o livro foi feito depois do filme (ou durante), nem a intenção era fazer uma apologia da violência. A violência está aí e ponto, culpar um cinesta por mostrá-la é um equívoco tão grande quanto achar que liberar as drogas vai diminuir o crime e nem adianta dizer que na Holanda não é assim, basta lembrar de que a Holanda não produz a droga que consome e que a mesma chega no estômago das "mulas" que atravessam o Atlântico colocando a vida em risco ou através de uma extensa cadeia de corrupção que faz as drogas serem transportadas por avião e /ou navio, tornando toda esta história ainda mais sórdida.
Anônimo disse…
o Filme pra todos os efeitos é um"soco no estômago"da hipocrisia mostrando na cara uma situação extrema na qual esse pais chegou.Tá com pena do Bandido?leva ele pra morar com você,o amor é lindo.Se vocês conhecessem realmente os policiais do bope nascimento é normal perto deles,já dizia o Pimentel,co autor do livro.Facismo é doença de rico fresco,pobre não sabe o que é isso,no mais,vejo vocês ou levando porrada da policia,ou sendo estuprados pelos bandidos,já que se você está do lado destes ultimos,haverá sempre um saco plastico pra mais um trouxa,ou da parte dos bandidos,haverá sempre uma pilha de pneus esperando pra ser o próximo microondas.Dasvedania!
Anônimo disse…
Acho correto a sociedade tomar nota do que acontece por ai...
Mas como pessoa sensata, que pensa no proximo, tenho certeza que a atitude de traficantes é ruim, mas a banalização da vida humana por quem se diz autoridade é muito pior, a autoridade não esta ai para assinar sentença de morte, pois nos lugares menos favorecidos tambem existe gente de bem que sofre com o trafico, e com a policia.

Tenho certeza que se alguem aqui visse algum parente proximo independentemente do carater, sendo torturado e morto, ou pela policia ou pelo trafico, entenderia o que eu quero dizer, Prego a vida, a paz, nao podemos bater palma para este tipo de comportamento mediocre das duas partes.

A solução? Não sei, mas tenho certeza que não é o bope. Talvez educação, talves um pais que não tolere corruptos, talvez nem exista...
Anônimo disse…
a solução?é você é tomar porrada.você é o burguesinho que leva cacete na passeata pela paz do movimento viva rio.Maconheiro desgraçado,vai pra amsterdã,seu viado!

FACA NA CAVEIRA
Anônimo disse…
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