He who gets slapped

He who gets slapped
De Victor Sjostrom
** ½


Mais um filme silencioso do cineasta sueco Victor Sjostrom, em sua fase americana. Mais um drama intimista, mais um drama moral, de personagens atormentados pelo destino e pelo amor, claro. O entrecho é um tanto exótico: um cientista tem sua grande invenção roubada por seu patrono, que ainda fica com sua esposa. Na Academia, quando tenta argumentar que a invenção é de fato sua, todos riem dele e ainda recebe uma bofetada do seu “patrono-ladrão”. Desencantado, esse cientista se torna um palhaço de circo, conhecido por seu número “he who gets slapped”, em que ele leva bofetadas a cada momento em que tenta dizer alguma coisa razoável, o que provoca inúmeras gargalhadas do público. A decadência moral desse homem respeitável é um antecedente direto do clima de O Anjo Azul. Por sua vez, o lado trágico do circo e a humilhação do palhaço a partir do contraponto entre fazer rir e sua tristeza interior antecede o clima de Noites de Circo, ainda mais quando sabemos da admiração de Bergman pelo cinema de Sjostrom (que faz o papel do professor, protagonista de Morangos Silvestres). Com isso, esse pouco lembrado filme de Sjostrom nos traz à mente várias referências. Algumas sequências são marcantes, como uma transição do globo terrestre para o picadeiro do circo, que remete a uma circularidade central na estrutura do filme. Ou ainda, especialmente, a cena em que, durante a apresentação do palhaço, há uma fusão da platéia do circo rindo de sua apresentação, para a da Academia, ridicularizando-o. O filme, em sua parte final, cai um pouco de interesse, porque Sjostrom está mais preocupado em arquitetar uma solução de vingança que pareça crível e que ao mesmo tempo não faça do palhaço um anti-herói. De qualquer forma, o interesse do filme está nas cenas de decadência moral e de consternação desse palhaço, que parece ser quando o diretor se sente mais à vontade para expressar, na combinação dos elementos de linguagem, um sentimento particular: esse tom nórdico, pessimista, amargo, essa inabilidade em encarar de forma mais amena a grande decepção que é a aventura de viver.

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