(FESTRIO 17) EM PARIS

Em Paris
De Christophe Honoré
Estação Botafogo 1 qui 19hs
* ½


Na verdade a maior graça de Em Paris é quando percebemos tratar-se de um filme sobre o cinema. Filme sobre amores (compreendidos, incompreendidos), é um filme francês à moda dos primeiros filmes da nouvelle vague. Louis Garrel é como Antoine Doinel, o eterno personagem dos filmes de Truffaut, em sua "adorável canalhice", um inofensivo cafajeste que vive a vida através do seu presente, que engana suas mulheres com uma hábil lábia, mas que no fundo é
"do bem". Até sua semelhança física pode ser notada. De fato, percemos que Em Paris é um filme sobre o cinema já na sua sequência inicial: Garrel fala para a câmera que ele é o centro do filme, personagem onisciente em torno do qual a história gira. Esse aspecto metalinguístico não tem o charme e a opulência do início de La Ronde, mas nos mostra, desde o início, que o filme
é sobre o artifício e com base no ponto de vista desse personagem.

Mas o filme não é só sobre ele, na verdade é tbem sobre o irmão dele, que vive trancaficado num quarto, curtindo sua depressão, após uma separação sentimental (relação que ocupa os primeiros 20 minutos do filme e que ficam um tanto jogados na estrutura narrativa do filme). Garrel, no entanto, percorre as ruas de Paris, e cruza com uma e outra mulher, faz amor com todas, é um galanteador. Os dois irmãos são um, e na verdade, antípodas: um que vive a vida e seus amores pelas ruas de Paris; o outro, que vive sua solidão (depressão) trancafiado dentro de seu quarto. Por outro lado, um pai solitário e uma mãe ausente mas que parece mais independente.

Com base nessa dicotomia (um tanto básica), Honoré faz um cinema livre, propositadamente ingênuo, superficial, frívolo. Um filme sobre as frivolidades da vida, sobre também as dificuldades de se viver em família, e em aceitar os limites do outro, e conviver com isso. Uma vida cujo centro são os amores, as brigas conjugais, as depressões, o sexo, as surpresas, as relações cutâneas, a epiderme. Um desejo por uma liberdade, mas em termos, já que esteticamente o filme busca um mergulho maior num cinema de personagens do que num cinema particularmente inventivo. Ou seja, uma liberdade controlada, "engraçadinha" mas nunca verdadeiramente transgressora. Entre os amores, a família, as relações contemporâneas e o cinema, Honoré, um tanto indeciso, assim como seus personagens, escolhe um pouco de tudo, e se não faz um filme que nos pareça brilhante, nos seduz em seus melhores momentos, ainda que de forma frívola e superficial.

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