Desesperato

Desesperato

De Sérgio Bernardes

MAM qui 30 ago 18:30

* ½

 

Em homenagem ao falecimento de Sérgio Bernardes, o MAM (Cinceclube TelaBrasilis) fez uma sessão do raro e esquecido Desesperato. O filme em geral é relacionado ao cinema marginal (especialmente devido à mostra do Puppo), mas na verdade está muito mais próximo das preocupações do cinema novo. O filme tem uma contribuição importante tendo em vista o cinema brasileiro do período, encaixando-se na chamada segunda fase do cinema novo, que mostra “a burguesia em crise”, conforme a classificação do Bernardet. O protagonista, um intelectual vivido por Raul Cortez, está dividido entre três vertentes, que na verdade são as três vertentes da vida: o lado da criação (é um escritor), o lado da família ou a esfera pessoal (sua esposa) e o lado da revolução ou a esfera coletiva (a guerrilha). Indeciso entre os três, esse intelectual é um ser passivo, com uma grande aversão à vida que leva mas sem conseguir encontrar um caminho de solução (superação) dessas dificuldades. Essa indecisão, essa dúvida, essa impossibilidade de articulação entre caminhos distintos, essa dificuldade em conciliar a esfera individual e a coletiva, a contradição entre sua origem de classe e suas convicções ideológicas, e essa sua necessidade de decidir o mais rápido possível, tornam-se o elemento-chave que faz de Desesperato, como o próprio título afirma de forma explícita, um filme de enorme urgência sobre o país e sobre o cinema brasileiro. Nesse sentido, alinha-se com O Bravo Guerreiro, de Gustavo Dahl, mas o filme de Gustavo é mais maduro, tanto em termos de linguagem quanto em termos de reflexão sobre os destinos do país. Por outro lado, como típico “cinema de autor”, Desesperato dialoga nitidamente com filmes clássicos da época, seja um certo clima da trilogia do Antonioni ou ainda mais explicitamente com A Guerra Acabou (especialmente na ambigüidade do tempo, da memória, com flashbacks e flashforwards que cruzam a narrativa). No entanto, seu desenvolvimento narrativo soa um tanto desarticulado, seja na articulação dos personagens coadjuvantes com a trama, seja no encadeamento dos tempos narrativos. Ou seja, seu tom inventivo fica mais caracterizado pelo roteiro do que pela mise-en-scene ou pela direção. De qualquer forma, o filme contribui para a reflexão do cinema que estava sendo feito à época, sobre as contradições de um cinema brasileiro e de um país.

 

Comentários

Murilo disse…
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