(IFFR2022) Projeto fantasma
COBERTURA DO FESTIVAL DE CINEMA DE ROTERDÃ (IFFR2022)
PROJETO FANTASMA
Proyecto Fantasma
de Roberto Doveris (Chile, 2022, 97 min)
Mostra Tiger Competition
Ainda que não esteja
explicitamente assinalado pelo filme, Projeto fantasma, do chileno Roberto
Doveris, está profundamente marcado pela pandemia. Enquanto o projeto de seu
próximo filme ficou paralisado por causa da COVID, Doveris resolveu, pela
necessidade de se mover, realizar um filme pequeno, com amigos e vizinhos,
filmado em boa parte em seu próprio apartamento e nos arredores.
Com isso, Doveris resolveu
construir um projeto pessoal, alimentado pelas suas angústias e inseguranças
acerca da trajetória de um jovem artista em busca de reconhecimento. Pablo, uma
espécie de alter ego do próprio Doveris, é um jovem ator que vive numa certa
crise, agravada por estar só, após a saída do amigo com quem dividia o seu apartamento
e por seu ex-namorado se tornar popular como youtuber. Essa crise pessoal é
ampliada com uma crise profissional: como ator, Pablo faz apenas pequenos
bicos, simulando ser um paciente num treinamento médico ou compondo uma terapia
de constelação de grupo.
De forma leve e descontraída,
Doveris, nesse projeto de filme de entremeio, reflete sobre as angústias do
jovem artista independente. O filme assume um tom prosaico, entre seu trabalho
e sua vida, dividida com um conjunto de amigos. Pablo toma conta de suas
plantas –algo que dialoga com seu primeiro filme, As plantas (2015) – e vive
com seu gato, que parece perceber a presença de um fantasma que misteriosamente
passa a habitar sua casa.
Não há algo propriamente
brilhante ou inovador na forma como Doveris organiza a mise en scène de seu
filme, ou mesmo nas questões de fundo que seu filme apresenta, em torno da tão
visitada relação entre o artista e seu cotidiano. Não há nenhum grande drama ou
conflito, de modo que o filme tende a um certo olhar superficial sobre a
comunidade de artistas e sobre suas dificuldades especialmente no momento que
nos afeta. Se há o gosto por uma certa dramaturgia do comum, por meio de uma
crônica de costumes, tampouco há a aposta por um estilo mais radical de
distanciamento ou rarefação. Não há propriamente angústia ou melancolia em
Pablo, mas reina no filme uma certa leveza, um desejo de encontros e um gosto
pela superfície do presente. De todo modo, a forma honesta, ágil e despojada
com que o realizador expõe a rotina de um artista independente em Santiago
cativa a atenção do espectador, sendo uma honesta declaração de princípios do
realizador sobre suas dúvidas, expectativas e desejos.
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