(IFFR2022) A human position

COBERTURA DO FESTIVAL DE CINEMA DE ROTERDÃ (IFFR2022) 


A HUMAN POSITION

de Anders Emblem (Noruega, 2022, 78 min)

Mostra Bright Future

 


          Por aqui temos uma visão muito restrita da sociedade nórdica. Por uma primeira impressão, vemos um país muito frio rs. Uma sólida qualidade de vida, com pouca desigualdade social, como uma grande classe média, sem intensos conflitos ou tensões mas uma dificuldade de expor os sentimentos e uma certa melancolia.

             A human position preenche essa visão da sociedade norueguesa. O filme acompanha o cotidiano de Asta, uma jovem jornalista, que retorna ao seu trabalho após um longo período de afastamento. Voltar à rotina. Basicamente o filme oscila entre o trabalho de Asta, em que ela visita lugares diversos e faz entrevistas, com seu cotidiano em casa, com sua namorada negra.

Entre o trabalho e a casa, Emblem radiografa um certo mal estar, uma certa melancolia por meio de um estilo contemplativo extremamente discreto, que procura observar o interior dessa personagem mas preservando respeitosamente uma certa distância, sem nenhum grande impacto emocional ou sensacionalismo.

Com isso, poderíamos até associá-lo a um certo cinema japonês, como Ozu. Mas a falta de conexões familiares (não temos informações sobre a família, Asta vive a sós com sua companheira) e de qualquer perspectiva moral, deslocam o eixo da rotina e do trabalho não para algo transcendente mas para um certo vazio. Se sua companheira é negra, o filme não desenvolve em primeiro plano nenhuma questão latente sobre a questão racial.

Assim, Embers vai aos poucos, de forma sutil e elegante, acessando camadas delicadas do interior dessa personagem, usando outros recursos para além do mais óbvio cinema de psicologia clássica. Em meio às suas entrevistas, de assuntos mais ou menos banais, ela toma contato com o caso de um refugiado. No entanto, esse despertar de consciência em Asta é refletido pelo filme de forma discreta, como o ritmo da vida, em que, quando nos damos conta, as coisas já estão sedimentadas dentro de nós.

A ênfase em grandes planos gerais nos ambientes externos evidenciam o deslocamento da personagem do espaço urbano da pacata cidade de Alesund, bem distante da capital Oslo. É impressionante a delicadeza de Embers em radiografar esse mal estar, essa necessidade do afeto e a dificuldade de obtê-lo. Para nosso espanto, o conforto da economia não resolve tudo. Por que, num país de grande nível socioeconômico, de grande qualidade de vida, Asta se sente tão frágil? Talvez porque não há nada a se fazer, nada a se lutar, nenhum grande sonho, nenhuma grande perspectiva de mudança. O modo humano como Embers encontrou uma forma cinematográfica adequada para expressar esse paradoxo é notável.

 

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