Fest Rio 3

 

A Montanha Sagrada

De Alejandro Jodorowsky

Palácio 2 qua 29 19:30

***

 

Graças a Deus eu não sou um crítico de cinema que precisa escrever uma lauda fazendo uma análise desse filme do místico Jodorowsky. Porque o próprio filme nos surpreende tanto e ao mesmo tempo embarca num processo de desconstruir seu próprio discurso que uma crítica sobre esse filme se torna uma tarefa no mínimo ingrata. Este foi o primeiro filme que vi do Jodorowsky, e primeiro de tudo ficou um deslumbramento com a opulência visual e o domínio técnico do diretor. Um deslumbramento que se transforma numa fascinação pois cada plano nos apronta uma surpresa, nos aponta para um novo mundo que nunca teríamos pensado antes. Um cinema mágico, místico mas ao mesmo tempo realista, político, preocupado com as questões do nosso tempo. Um cinema subversivo, mas uma subversão pela capacidade do sonho, do pensamento, pela possibilidade de fazermos da vida o que bem entendermos, e a compreensão madura desse poder mágico do cinema de nos transportar a cada plano para uma nova possibilidade.

 

Jodorowsky é diretor, roteirista, cenógrafo, autor da trilha sonora e por fim ator desse filme único, singular dentro de qualquer cinematografia. Ficamos pensando como ele arrumou a grana para fazer o filme, já que é um filme caro, com dezenas de figurantes, diversos cenários, locações, direção de arte, com carrinhos, etc, e plasticamente impecável. Às vezes sua opulência nos lembra (por alto) o cinema de Paradjanov.

 

O tom místico de A Montanha Sagrada é claro e nos impressiona. Mas ao longo do filme Jodorowaky faz questão de desmistificar sua própria mística, e não tem medo de colocar em cheque os seus próprios conceitos. O tom de humor fica cada vez mais presente no filme, até chegar num final em que o próprio filme não é levado a sério. Antes ele já havia dito que todas as montanhas sagradas estavam num conjunto de potes de drogas diversas e LSDs. Mas no fim ele mostra que a temível travessia era só artifício de roteiro, e que tudo não passa de um filme, de uma imagem, de mera representação.

 

Ou seja, a montanha sagrada está dentro de nós, dentro do nosso pensamento. O caminho para chegar até ela é que pode ser distinto e nos é um pouquinho iluminado pela loucura libertária e anarquista do cinema de Jodorowsky.

 

Comentários

Anônimo disse…
Meu caro: uma ótima análise de A mnontanha sagrada. Esta semana pretendo ver El Topo, que não conheço. Um abraço.

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