Fest Rio 2

Alice

De Marco Martins

Estação Botafogo 2 seg 25

* ½

 

Alice, mais um exemplar da vitalidade no cinema português contemporâneo, é um típico filme de estréia, com os prós e os contras que isso traz consigo. De um lado, é nítido que o diretor possui um olhar e uma paixão para o ofício de cinema, sua energia em realizar um primeiro filme. De outro, também são visíveis suas falhas, uma dificuldade no ritmo, um enredo que tem dificuldades em se sustentar por 105 minutos. Mas as falhas de Alice são vistas mais pela tentativa de acertar, pela tentativa de construir um universo próprio do que pela ausência de uma proposta ou pela timidez da realização. Por isso, a expectativa em torno de um próximo projeto do diretor passa a ser bem positiva.

 

Alice é, acima de tudo, extremamente antenado com uma proposta de cinema contemporâneo, de fusão entre o documentário e a ficção, ou ainda entre o tempo e o espaço físico da obra. Mário, o protagonista do filme, tem sua filha Alice desaparecida, e passa a seguir uma rotina obsessiva para tentar achá-la: distribui panfletos com sua foto pela cidade, coleta imagens com onze câmeras de vídeos espalhadas em locais estratégicos da cidade, etc. Com isso, sua vida passa a ser uma vida outra. E com isso não percebe que, além de perder sua filha, está prestes a perder sua esposa.

 

Mário é quase que um irmão de Tomek, o menino de Não Amarás. Enquanto Tomek vê a vida de sua vizinha Magda pela janela, Mário observa a vida pelas câmeras de vídeo, à procura de uma vida outra que não é a sua.

 

O cinema de Marco Martins é acima de tudo muito respeitoso com o tempo e com o desejo quase insano desse homem em recuperar um passado que não existe mais. Uma busca interminável. E o papel do cinema (do vídeo) e da representação (o teatro) em torno disso.

 

Algumas coisas saem um pouco do tom (o flashback com câmera na mão, especialmente) mas no final fica uma sensação de que Marco Martins está no caminho certo, pelo menos no campo das intenções. O que ele precisa é caprichar um pouquinho mais.

 

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