Jia Zhang-Ke

Jia Zhang-Ke ganhou o Festival de Veneza, mesmo não estando entre os favoritos. Bacana, porque está na ponta do que está sendo feito em termos de cinema, diferentemente da balela dos Ken Loachs da vida (ver Cannes).

 

Bacana, porque o projeto de Zhang-Ke é extremamente antenado com o momento em que vivemos hoje. Ou seja, mais do que a questão estética, são filmes extremamente políticos.

 

As transformações da China comunista rumo ao capitalismo são uma síntese do mundo em que vivemos. A velocidade das transformações que paradoxalmente aprofundam as estruturas conservadoras e a concentração de poder. A tentativa de aniquilamento de uma cultura de resistência.

 

E Zhang-Ke fala disso através de um cinema que tem um respeito profundo pelas possibilidades de expressão, de ter um contato orgânico, honesto, verdadeiro com uma realidade. Ver os filmes de Zhang-Ke me lembra algumas frases de como se deve conhecer uma cidade. Uma é passear pela cidade com um guia turístico, que apresenta os lugares turísticos de dentro de um ônibus com ar condicionado. Outra é caminhar pelas ruas da cidade e conversar com as pessoas comuns que moram lá há décadas.

 

O cinema de Zhang-Ke opta pela segunda opção. Tem gente que acha desinteressante, porque o mais bacana seria ir num lugar e conhecer a Estátua da Liberdade, o Pão de Açúcar, essas coisas. Mas o cinema de Zhang-Ke nos permite ter contato com esse cenário de transformações – econômicas, culturais, sociais – de uma forma que não parecia possível para o cinema. Com um senso de observação, contemplação e senso crítico que talvez só seja possível à cultura oriental.

 

Ficamos pensando numa comparação com os filmes de Zhang Yimou. Que lamentável! Este prefere o caminho mais fácil: o falso cinema de denúncia, o estereótipo, a caricatura.

 

Comparar um filme de Zhang-Ke com um filme de Yimou é a mesma coisa que comparar Serras da Desordem com Anjos do Sol, em termos do que falam sobre um Brasil.

 

Cabe a quem vê decidir qual a forma mais conveniente de conhecer uma nova cidade, um novo mundo. Eu já optei pela minha.

 

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