ainda olgargh

é claro que não há espaço para a dramaturgia em olgargh, e realmente me impressionou a incapacidade de Monjardim de fugir do superclose. Mesmo em termos de produção, o filme me pareceu meio canhestro: Prestes parece que nunca saiu do apartamento dele, como iria comandar uma revolução? como iria ter o apoio da marinha, exército, do povo (???!) etc, se nunca falava com ninguém, se nunca saía do seu casulo?? Se pensarmos bem, Olga é cheio de interiores, o que facilita a produção. Pensei que iria ter cenas de confronto, de batalha, mas nada, meio caozinho.

Outra coisa que achei estranhíssima: Olga é retratada como um ser andrógino. As cenas em que aparecem Camila Morgado nua são deprimentes: é impossível ter tesão naquela mulher, naquele robô falante. Se o filme quis pasar um processo de humanização, ele ainda ficou muito a meio do caminho. E isso é o que foi estranho: Olga é um filme muito mais feminino que masculino, e as tentativas de atrair o público masculino foram todas canhestras no filme. A atuação de Camila Morgado sofre dessa dificuldade expressa na direção e no roteiro, da impossibilidade de encontrar um equilíbrio entre a contenção e a expressão, ou ainda entre seu lado robótico e o apaixonado. Assim as cenas de quando os dois são presos e ainda tentam se agarram um ao outro são toscas, assim como a já histórica cena do "assassinos! assassinos" etc.

Dentro da linha de cinema-blergh do "Manjadinho", a única possibilidade para Olga é se fosse um filme sobre a humanização de uma pessoa atraves do amor, e o filme iria bem até nas lições ideológicas que poderia ter (o social se rompe em função do indivíduo, que é no fundo o lema do filme). Nisso uma frase sintese do filme seria aquela que a pessoa fala que o calor dos tropicos ja fazia efeito em olga logo após uma bela equencia em q ela nada no mar. Mas nem isso.

Por fim, a única coisa de interesse em olga é a questão do olhar, ou melhor, dos olhos. Os olhos são a única coisa que fala neste filme. Os olhos de Olga são obstinados, fixos; os olhos de Prestes são miúdos, tímidos, esguios. Nos campo-contracampo de supercloses típicos de Monjardim, os olhos falam. Ali é o único resquício de cinema em Olga.

Agora, vamos combinar: não dá pra pensar ingenuamente que é só fazer bigclose pra se criar uma tensão, e isso por si só leva a cena. Muito pouco para um diretor da kilometragem de JM.

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