(FestRio 1) : Whisky

WHISKY
de Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll
Uruguai, 2003
Cabines, Odeon, dom 17:30 (atrasou pacas começou lá pras 18:15...)
***

Exemplo para os novos realizadores latino-americanos e de todo o mundo, Whisky é um filme super simples de produção: embora tenha um certo número de viagens e locações, é baseado estritamente em três atores, uma fábrica, uma casa e um hotel, e uma ou outra cena externa. O filme é isso, mas é absolutamente comovente, e altamente inspirado no desenvolvimento de sua dramaturgia. O filme é sobre a emulação de uma realidade, mas especialmente sobre a solidão de uma pessoa que não avançou com o tempo, parou ali, confortavelmente. Mas nada cabeça ou ultra ultra. É um filme simples, sobre a condição humana.

O que mais encanta no filme é sua coerência, é o rigor do uso da linguagem. A repetição sistemática da rotina na fábrica, com os mesmos enquadramentos, silêncios, tempos mortos, props e diálogos. No final, quando tudo será o mesmo mas absolutamente diferente, a repetição da rotina sem um dos elementos (a presença da obstinada funcionária) trará em cheque toda a perspectiva da continuidade, a questão do tempo e reforçará a participação do espaço físico como propulsor de uma afetividade, coisa que os jovens diretores conhecem muito bem e resolvem sem nenhuma dificuldade. Já sabemos que eles conhecem cinema pela sequencia da casa quando a mulher chega e no dia seguinte, com os planos vazios da casa bagunçada e da casa arrumada no dia seguinte, recurso de cinema oriental, com toque ligeiramente cômico, mas repleto de uma análise ultra-observadora sobre a intimidade, sobre a solidão, sobre o cinema: aquelas naturezas mortas falam de uma dramaturgia da mudança. Um plano como o de uma furadeira sobre a mesa de jantar, ou de um bule quante no fundo da pia são a prova de como os diretores trabalham a dramaturgia, longe de serem pretensiosos, mas absolutamente inventivos.

Um filme humano, em cima de três atores, de uma decupagem, de um sentimento de cinema, de um diálogo (sem ser imbecil) com o público: filme simples que atinge em cheio quem deseja o cinema. Belo filme.

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