ACIDENTE

ACIDENTE

De Cao Guimarães e Pablo Lobato

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Texto que escrevi para o catálogo da Mostra do Filme Livre sobre ACIDENTE, um dos grandes filmes do cinema brasileiro atual, junto com Serras da Desordem, do Tonacci.

Um filme documental feito pelo olhar e para o olhar. Uma proposta de um cinema contemporâneo riquíssimo.Um cinema sem esse papo de discurso didático sobre o Brasil.

Um olhar para um Brasil interior bem distante do olhar didático do cinema novo, sem falar das babaoseiras de um Dois Filhos de Francisco.

Esse sim é o Brasil interior que o cinema pode mostrar com dignidade, sem exploração da miséria ou culto romântico bucólico.

Um Brasil que pulsa em sua poesia e em sua realidade, mas sempre A PARTIR DE UM OLHAR, a partir de UMA verdade, e não DA verdade.

Um cinema do registro, preocupado em apreender mais do que mostrar.

Não quer ensinar, não quer denunciar, não quer explorar – e sim quer aprender, apreender, viver, respirar, tocar, sentir, viver uma possibilidade de um outra Brasil/mundo/cinema.

Se o cinema é uma forma de experimentar as formas de viver, fazer, sentir da vida e do mundo, então acredito que o cinema deva ser como ACIDENTE.

Um filme fantástico.

 

 

“Oriundo de concurso público do DOCTV, a versão longa de “Acidente” é tudo o que não se espera de um documentário feito para televisão. Sem reportagens, sem um olhar didático para o seu tema, o filme percorre 20 cidades pelo interior de Minas à procura de algo que não se apresenta de imediato, mas que temos que descobrir ao longo do filme. Esse percurso vale tanto quanto o encontro, e “Acidente”, com um direto diálogo com outros filmes da Teia (“Nascente”, “Trecho”, “Aboio”) percorre um caminho íntimo entre a poesia e a memória, o imaginário e a realidade de um Brasil desconhecido. Abismo de um país e de um povo quase invisíveis, “Acidente” discute entre os limites de um cinema experimental e documental, entre o cinema de registro e o de invenção, a possibilidade da surpresa e da descoberta, assumindo para o espectador que o documentarista “aprende” mais do que “ensina” sobre seu tema de estudo. Por fim, deve-se observar com atenção que “Acidente” não é totalmente “acidental”: um minucioso trabalho de construção de um olhar, a partir do enquadramento e da montagem, nos reconstrói esse processo de descoberta. Entre o improviso e o rigor, Acidente comprova que o melhor cinema feito no Brasil vem de BH e particularmente da Teia.”

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