Qu´est-ce que le cinema?

Qu´est-ce que le cinema?
(Fest Rio: um prólogo doloroso mas necessário)

Estou numa fase da vida e no meio deste caótico Festival do Rio que me encontro totalmente perdido. Quanto mais filmes eu vejo menos tenho alguma compreensão do que seja o cinema. E não falo para fazer pose. Atualmente consigo entender muito menos dos filmes do que entendia há, sei lá, cinco anos atrás. Mas hoje tenho um profundo respeito pela diferença: num dia vejo o filme comercial de máfia japonesa de Johnnie To, no outro, a comédia romântica sarcástica e profundamente melancólica de Tsai Ming-Liang, depois, a homenagem ao Ozu em Café Lumière, onde não acontece nada. Em seguida, a cusparada verborrágica, a desesperada declaração de princípio de Domingos Oliveira. Antes, a epopéia religiosa e quase fanática de Reygadas. Entre eles, a sabedoria da sobriedade franciscana de Manoel de Oliveira. Cada um buscando o seu cinema, o seu modo de exprimir e de viver particulares. Tentando, errando, conseguindo, buscando. Então respeito, cada vez mais respeito, mas cada vez menos entendo, cada vez mais fico perturbado com minha ignorância, e de fato não sei o que fazer. Hoje, o meu desejo mais verdadeiro seria tirar férias do cinema de pelo menos 2 meses, sem ver uma única imagem, um único frame. Ou então ficar um tempo só revendo os clássicos, revendo os filmes de Antonioni, Tarkovsky, Bergman, John Ford, Renoir, etc, etc, esses filmes que já vi há algum tempo e tenho uma memória nebulosa. Mas sei que não seria possível manter essa promessa, então declino dela. O cinema hoje me angustia, me tortura: é com enorme esforço físico e psicológico que acompanho “as aventuras de um personagem em tentar viver”, ou ainda, “a aventura de um diretor poder se expressar”. Para mim cada vez mais assistir a um filme se revela um processo difícil: cansativo, traumático, perturbador e – o que é mais cruel – ao final das contas, muitas vezes ininteligível.

Comentários

Anônimo disse…
Ikeda... tuas palavras, teus pensamentos.
vc ganha meu respeito e admiração.
vc pensa o cinema! e também está passando pela crise de tentar entender a arte, assim como eu.
vc é sábio. é dos que observa e desconstrói para chegar a alguma conclusão (ou não).

é, de todos os que conheci através do blogue, dos melhores. dos melhores.
leonardo marona disse…
acho que vc escreve bem pra cecete, e, melhor, sem pose. leio fácil, o texto escorre, e angustia aqui tb... pq fala, além do bem e do mal, de sensações honestas, sem o pedantismo que vejo tanto nas rodas encardidas dos "cinefilos" de botequim.

to querendo ver o "meu deus, meu deus, por que me abandonaste?". sabe alguma coisa desse japones? é japones, né?

abraço. quando é a proxima cervejada lá na tua casa?

leo

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