Monsieur Verdoux

Monsieur Verdoux
De Charles Chaplin
DVD sab 2 abr 18hs
***

Queria rever Monsieur Verdoux, um filme cult meio esquecido de Chaplin, mas que tem uma magia irresistível. Para mim, é o projeto mais ousado de Chaplin. Revendo o filme, vi que ele é irregular: tem vários problemas de ritmo, a decupagem à vezes é muito teatral e forçada, não tem a fluidez de mise-en-scene dos filmes sonoros, os diálogos banais muitas vezes são completamente dispensáveis. Mas ainda assim existem seqüências extraordinárias, e todo o filme é de uma ousadia e coragem surpreendentes, e de um frescor e de uma atualidade impressionantes.

Falamos antes que o verdadeiro diretor é o que encontra o TOM certo para o filme. E daí vemos que Chaplin é um grande, grande diretor. Essa comédia de humor negro tem sutilezas de tom muito difíceis para o diretor. Verdoux é um personagem belo e terrível, com quem ao mesmo tempo simpatizamos (ele tem uma ingenuidade típica do vagabundo Carlitos) e ao mesmo tempo execramos. Seu tom é romântico, lúdico, e ao mesmo tempo premeditado, falso, artificial, afetado. A interpretação de Chaplin é espetacular, porque dá margens a toda essa gama de sentimentos, com uma atuação que vai na essência desse personagem. Verdoux é também um ator, e dái vemos toda a terrível faceta da representação. Vemos também a terrível face das mulheres que Chaplin seduz. Todas são miseráveis, mesmo com diferentes níveis de miserabilidade....rs

O filme á amoral, tem uma ética difícil que nos remete aos filmes do Mojica. É claro que não é uma apologia ao assassinato, ao contrário, uma condenação, mas ao mesmo tempo é um elogio à liberdade e à reavaliação do assassinato. É difícil explicar.

É sempre filmado com uma grande profundidade de campo, o que provoca um efeito realista, mas ao mesmo tempo os cenários são completamente falsos, artificiais. O filme é muito estranho, mas muito bem orquestrado, arquitetado.

A cena em que Chaplin salva a pobre mulher de tomar a taça de vinho com veneno mexeu muito comigo. A morte por um fio. Não conseguimos tirar os olhos da taça, porque as taças são iguais, e achamos que a qualquer momento Chaplin pode por um engano beber a taça com veneno. É terrível.

O final é espetacular. “Se se mata um, é assassino. Se se mata milhões, vira-se herói” Ou ainda, no tribunal, quando o advogado diz que estamos diante de um monstro. E todos se viram para ver Chaplin, inclusive ele mesmo, procurando o tal monstro. Ou ainda, quando Chaplin resolve tomar rum, porque “nunca havia experimentado rum”. E afinal, o plano final do filme, um plano que reforça o tom moral e ético do cinema chapliniano (o assassino tem que morrer e ser punido), mas ao mesmo tempo na minha cabeça ficou uma referência muda ao “pobre Jacques”, a estarrecedora declaração ao final de Le Trou.

Apesar de todo o tom irregular, Monsieur Verdoux é inesquecível. Um filme sobre a natureza humana, um filme político, uma crítica contundente à necessidade de sobrevivência dentro da selva do american way of life. Chabrol matou a pau quando diz “Verdoux é na verdade um filósofo”. É uma versão do vampiro de Nosferatu, ou do gabinete de Dr. Caligari: Verdoux sofre um transe e começa a executar suas vítimas, sem grande discernimento moral, apenas no cumprimento de seu dever. Filmado no entreguerras, M. Verdoux é um grande, um enorme exame sobre as contradições do mundo contemporâneo, um questionamento agudo sobre o valor da vida, da amizade, do amor, da família, do dinheiro, da verdade. Um filme doloroso de se ver e muito, muito ousado.

Comentários

Anônimo disse…
Eu assisti esse filme ontem e achei espetacular...

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