Vocação do Poder

Vocação do Poder
De Eduardo Escorel e José Joffily
É tudo verdade, CCBB, 1º de abril, 19hs


É curioso como o grande Carlos Alberto Mattos abriu a sessão filiando Vocação do Poder a uma tradição recente do documentário brasileiro de fazer “filmes políticos”. E na nossa cabeça, vem o Entreatos. E Vocação de Poder segue a mesma estrutura de Entreatos, de desmistificar o político, de uma humanização do político, aproximando-o de um cidadão comum, e também de revelar os bastidores e a trajetória da campanha política. Mas ao contrário de Entreatos, que cerca um dos candidatos (no caso a presidente), Vocação vai no cargo político mais simples, o de vereador, e acompanha seis candidatos: uma evangélica (a Pastora Márcia Ferreira), um idealista (Felipe Santa Cruz), um “candidato do povão” (MC Geléia), um boa praça (Antônio Pedro), um filho de deputado (André Luiz Filho) e um jovem riquinho (Carlo Caiado). Há momentos engraçados, há momentos marcantes, há um olhar sobre o cinema e sobre o documentário. É interessante não ter uma proposta totalizadora, de dar as respostas, ou de não julgar os candidatos e a política no Brasil. Mas ao mesmo tempo fica uma certa distância do filme. No fundo, assim como em Entreatos, Vocação de Poder é um filme que busca o tom excêntrico e as curiosidades em torno do dia-a-dia de campanha, mais do que de fato propor um olhar sobre os dilemas da política brasileira. Com isso, o filme perde a força e parece um conjunto de momentos curiosos da campanha desses seis candidatos, e não um filme ou uma reflexão sobre o processo político. Esse projetos, portanto, de “um filme político” acaba perdendo a tez no fim do caminho. O olhar generoso e a aproximação da câmera com o entrevistado, com o dia-a-dia do entrevistado é na verdade herança profunda do estilo Coutinho. Ou ainda, do estilo João Moreira Salles. Funcionou com Nelson Freire, sobre o processo artístico. Sobre um político, tenho minhas dúvidas. Botando na balança, Vocação do Poder se equilibra, menos do que Entreatos, pelas cenas em si, mas deixa a desejar quanto à proposta de um olhar mais contundente sobre as contradições da sociedade brasileira.

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