o corpo do cinema oriental

Bom, depois que passei pela experiência de ensaiar dois atores para o meu curtinha em16mm, passei a ter mais atenção para a questão da expressão corporal dos filmes que assisto. E nesse Festival do Rio, uma questão me chamou a atenção: como o cinema oriental trabalha de forma assutadoramente íntima a questão do corpo. Três ou quatro filmes orientais foram muito sintomáticos nisso, todos orientais, uns melhores que outros, mas todos completamente interessantes em como os atores trabalham a contenção da expressão corporal para mostrar uma dificuldade de expressar os sentimentos: Dia e Noite (chinês), Mal dos Trópicos (Tailandês), As 48 cachoeiras (Japão) e Sem Rumo (Japão).

Todos os quatro filmes de uma forma ou de outra falam de um desajeitamento no mundo, ou de uma dificuldade de expressar os sentimentos. Em algum momento, no entanto, os personagens tentam fugir desse desajeitamento, e "pedem a ajuda" do outro. Os abraços, os toques, a aproximação corporal acaba tendo um quê absolutamente comovente: é o toque constrangido dos corpos do aprendiz e da viúva após a morte do mestre em Dia e Noite, é o deitar no colo da tenra aproximação gay em Mal dos Trópicos; é o desengonçado fazer amor do loser e da prostituta de As 48 cachoeiras; é o descontrolado riso dos dois parceiros de Sem Rumo. O toque não é valorizado por um plano próximo, por exemplo, e sim por uma contrução dramatúrgica de preparação e de súbita resposta. Estar em desconforto consigo mesmo acaba se refletindo por um desacerto em relação a seu próprio corpo. Lição de intimidade, respeito aos limites da articulação: cada vez mais humanos os personagens implodem dentro de sua fragilidade, de seu estado controlado e melancólico, desejo partido, inércia mística, purificação.

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