Los Muertos

Os Mortos
De Lisandro Alonso
*** ½

O nome de Lisandro Alonso ainda é muito pouco conhecido no Brasil. Aos trinta anos e três filmes no currículo (A Liberdade, Os Mortos e Fantasma), o diretor já é considerado um dos principais expoentes do cinema argentino contemporâneo. Os Mortos, seu segundo filme, foi exibido na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes em 2004. É um grande filme, que nos lembra de imediato do cinema de Carlos Reygadas, especialmente de Japón. Alonso também procura um mergulho íntimo, um cinema existencial, ao longo de uma América Latina interior, só que o faz sem a opulência do diretor mexicano. Em Os Mortos, há uma busca por uma simplicidade, um certo minimalismo, em que o silêncio e o cinema de observação são os principais pilares.

A narrativa de Os Mortos é um fiapo de história e que desestabiliza o espectador, que só conhece os traços narrativos sempre a posteriori. Um homem num lugar estranho que só depois percebemos que é uma prisão. Sua saída da prisão e a viagem para algum lugar que só depois descobrimos ser a casa de sua filha. Seu percurso na estrada. Como típico cinema contemporâneo, a busca de Alonso é por um cinema que procura “mostrar” ao invés de “narrar” e por um personagem que é o que ele esconde e não o que ele representa. O resultado é um filme de enorme força interior, de planos longos, em que o percurso desse homem em sua volta como sinal de busca a uma condição de origem é associado a uma reintegração com a natureza. É um cinema contemporâneo pela forma orgânica como tempo e espaço se articulam, um filme sobre um percurso geográfico, temporal e íntimo desse homem em busca de si mesmo, em busca da possibilidade de continuar vivendo, de tentar deixar para trás esse passado perdido. É acima de tudo o percurso de um homem duro que busca voltar a encontrar sua família, seu lar.

Aqui não há psicologia, “regresso poético”, ou “representação de um discurso”, há simplesmente esse cinema descritivo das ações e dos passos desse homem voltando, e quão forte é esse cinema por se prender ao que é essencial dessa busca e não se perder pelas firulas e pelos efeitos narrativos!

É uma pena que o cinema de Lisandro Alonso seja praticamente desconhecido no Brasil. Os Mortos, produzido na vizinha Argentina, é um filme fundamental para quem se debruça sobre o que de melhor está se fazendo em termos de cinema contemporâneo.

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