(FESTRIO 14) CONTROL
Controle, a história de Ian Curtis
De Anton Corbijn
Palacio 2 ter 21:30
** ½
Uau, mais um belo filme, sobre o vocalista e líder da banda inglesa Joy Division, mostrando a trajetória do cara até o seu suicídio aos 23 anos (putz!). Um filme que, se por um lado é um pouco chapa branca no processo de decadência desse vocalista, por outro tem um mérito inegável: o tom preciso que o diretor escolhe para contar essa história. O filme tem um lado pop,
meio adolescente, levemente dark, e de outro, é bastante melancólico, com tempos de espera que facilitam a reflexão. Os primeiros quinze minutos do filme são lindos, anterior à sua decisão de entrar na banda: os anos de descoberta, ele andando na vizinhança, um casal de amigos vindo visitá-lo em casa. Todo um cinema já está ali, e daí o filme já nos pegou fácil, fácil. Em preto-e-branco levemente estilizado, mas que tbem nos insere nesse tom, essa tristeza e solidão que pouco a pouco invadem o filme. O que o filme nos passa é que Curtis simplesmente não tinha a estrutura emocional para aguentar a pressão do sucesso repentino, e o filme, de forma simples, nos coloca no contato todo com essa dúvida: permanecer grudado à vida de sua cidadezinha natal, ou ser o popstar, aquele que pode tudo? Nem um nem outro, e essa dificuldade é que foi o fim de Curtis. Muito disso se espelha na dúvida entre as duas mulheres: a dedicada esposa Deborah Curtis, autora do livro no qual se baseia o filme)e filha, e a independente Annik. Ele quer desistir de Annik (ou pelo menos ele quer se convencer disso), mas não pode mais deixar de ser o popstar, prova disso é a bela cena de quando volta para a casa dos pais, e eles dizem friamente "seu quarto está ali no mesmo lugar", mas é claro que não é mais o mesmo quarto, porque ele já não é mais o mesmo, e ali ele não pode ficar. Então pode ficar aonde? O filme não se concentra quase nada no processo de criação e na relação de Curtis com os demais membros da banda, que parecem fantoches e meio abobalhados em relação ao "gênio romântico" (é preciso concordar que o filme assim o pinta). Mas fazemos vista grossa de tudo isso: um ator fantástico que preenche a tela (o fantástico San Riley, em seu primeiro filme) e uma direção que enche o filme de um TOM (novamente essa palavra) extremamente peculiar. Anton Corbijn é um diretor estreante em longas-metragens, sendo mais conhecido como fotógrafo e por ter feito vários vídeos de algumas bandas famosas, como Metalica, Depeche Mode e U2. De qualquer modo, uma revelação, pela maturidade na condução do ritmo e na composição dos climas, embora na metade final o filme caia um pouco de ritmo, tornando-se um pouco mais didático e óbvio do que a primeira parte, mais sutil. O filme tem alguns enquadramentos extremamente
interessantes, em termos de como trabalha as linhas diagonais e horizontais dentro do quadro, até o flash forward de uma roldana na cena da hipnose, que só no final entenderemos que já é uma idéia de suicídio que ele guarda no seu subsonsciente. Tem tbem tempos um pouco mais largos quando necessário, como é o caso da bela cena do parto quando Curtis sai para fumar numa dependência externa do hospital. O filme tem tbem um toque britânico, mantendo-se a uma certa distância emotiva do seu protagonista que, por um lado, se mantém distante de nós em termos de não saber o que sente e o que fazer. O título do filme é brilhante, porque toda a questão de Curtis é "manter-se sob controle", ter a vida sob controle, e ao não conseguir fazer
isso, desesperar-se a ponto de desistir. Os ataques epiléticos são trabalhados nessa linha: exaustão física e emocional como associação de não ter controle sobre o próprio corpo, e como isso se reflete em não estar mais saudável. Por fim, é certo que Controle não é Last Days, este último com sua busca por um cinema sensorial radical e cujas motivações do personagem são
esparsas e difusas. Mas tbem não é a xaropada de Cazuza, e ficamos enrubescidos em como algumas pessoas acharam méritos no filme brasileiro, quando esse Controle vem nos mostrar um cinema narrativo simples, que cai na mesma aura romântica do artista, mas com um sentimento cinematográfico e uma unidade de nos fazer inveja. Ainda que não seja um filme de invenção como Last Days, Controle é puramente cinematográfico, porque através da vida da
Ian Curtis, contrói um clima, um olhar e um sentimento para essa juventude trágica e depressiva. Belo filme.
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De Anton Corbijn
Palacio 2 ter 21:30
** ½
Uau, mais um belo filme, sobre o vocalista e líder da banda inglesa Joy Division, mostrando a trajetória do cara até o seu suicídio aos 23 anos (putz!). Um filme que, se por um lado é um pouco chapa branca no processo de decadência desse vocalista, por outro tem um mérito inegável: o tom preciso que o diretor escolhe para contar essa história. O filme tem um lado pop,
meio adolescente, levemente dark, e de outro, é bastante melancólico, com tempos de espera que facilitam a reflexão. Os primeiros quinze minutos do filme são lindos, anterior à sua decisão de entrar na banda: os anos de descoberta, ele andando na vizinhança, um casal de amigos vindo visitá-lo em casa. Todo um cinema já está ali, e daí o filme já nos pegou fácil, fácil. Em preto-e-branco levemente estilizado, mas que tbem nos insere nesse tom, essa tristeza e solidão que pouco a pouco invadem o filme. O que o filme nos passa é que Curtis simplesmente não tinha a estrutura emocional para aguentar a pressão do sucesso repentino, e o filme, de forma simples, nos coloca no contato todo com essa dúvida: permanecer grudado à vida de sua cidadezinha natal, ou ser o popstar, aquele que pode tudo? Nem um nem outro, e essa dificuldade é que foi o fim de Curtis. Muito disso se espelha na dúvida entre as duas mulheres: a dedicada esposa Deborah Curtis, autora do livro no qual se baseia o filme)e filha, e a independente Annik. Ele quer desistir de Annik (ou pelo menos ele quer se convencer disso), mas não pode mais deixar de ser o popstar, prova disso é a bela cena de quando volta para a casa dos pais, e eles dizem friamente "seu quarto está ali no mesmo lugar", mas é claro que não é mais o mesmo quarto, porque ele já não é mais o mesmo, e ali ele não pode ficar. Então pode ficar aonde? O filme não se concentra quase nada no processo de criação e na relação de Curtis com os demais membros da banda, que parecem fantoches e meio abobalhados em relação ao "gênio romântico" (é preciso concordar que o filme assim o pinta). Mas fazemos vista grossa de tudo isso: um ator fantástico que preenche a tela (o fantástico San Riley, em seu primeiro filme) e uma direção que enche o filme de um TOM (novamente essa palavra) extremamente peculiar. Anton Corbijn é um diretor estreante em longas-metragens, sendo mais conhecido como fotógrafo e por ter feito vários vídeos de algumas bandas famosas, como Metalica, Depeche Mode e U2. De qualquer modo, uma revelação, pela maturidade na condução do ritmo e na composição dos climas, embora na metade final o filme caia um pouco de ritmo, tornando-se um pouco mais didático e óbvio do que a primeira parte, mais sutil. O filme tem alguns enquadramentos extremamente
interessantes, em termos de como trabalha as linhas diagonais e horizontais dentro do quadro, até o flash forward de uma roldana na cena da hipnose, que só no final entenderemos que já é uma idéia de suicídio que ele guarda no seu subsonsciente. Tem tbem tempos um pouco mais largos quando necessário, como é o caso da bela cena do parto quando Curtis sai para fumar numa dependência externa do hospital. O filme tem tbem um toque britânico, mantendo-se a uma certa distância emotiva do seu protagonista que, por um lado, se mantém distante de nós em termos de não saber o que sente e o que fazer. O título do filme é brilhante, porque toda a questão de Curtis é "manter-se sob controle", ter a vida sob controle, e ao não conseguir fazer
isso, desesperar-se a ponto de desistir. Os ataques epiléticos são trabalhados nessa linha: exaustão física e emocional como associação de não ter controle sobre o próprio corpo, e como isso se reflete em não estar mais saudável. Por fim, é certo que Controle não é Last Days, este último com sua busca por um cinema sensorial radical e cujas motivações do personagem são
esparsas e difusas. Mas tbem não é a xaropada de Cazuza, e ficamos enrubescidos em como algumas pessoas acharam méritos no filme brasileiro, quando esse Controle vem nos mostrar um cinema narrativo simples, que cai na mesma aura romântica do artista, mas com um sentimento cinematográfico e uma unidade de nos fazer inveja. Ainda que não seja um filme de invenção como Last Days, Controle é puramente cinematográfico, porque através da vida da
Ian Curtis, contrói um clima, um olhar e um sentimento para essa juventude trágica e depressiva. Belo filme.
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