(FESTRIO 9) XXY

XXY
De Lucia Puenzo
Palácio 2 qua
**
.
Outro filme argentino exibido com boa repercussão na Semana da Crítica do
Festival de Cannes 2007, XXY não é cinema de invenção como O Assaltante, é
um filme narrativo de linha mais convencional, mas cujo grande destaque é
como trabalha de forma inventiva e ambígua o desenvolvimento dos personagens
do roteiro, ou seja, acima de tudo, é um filme de personagens, mais do que é
um filme sobre uma estética. Isso pode ser facilmente entendido se
pesquisarmos sobre a carreira da diretora, mais conhecida como roteirista
para séries de TV argentinas. O tema é complexo: uma hermafrodita de cerca
de 15 anos precisa decidir sobre sua sexualidade, ou seja, se quer ser homem
(deixando de tomar os medicamentos) ou se quer ser uma menina, como parece
ser o desejo dos pais. Se a adolescência já é uma fase crítica sobre a
descoberta da sexualidade, esse caso assume proporções críticas. Essa
adolescente pode decidir, ou "sua genética" já decidiu por ela? Essa questão
de "decidir-se", tema crucial para a adolescência, acaba fazendo de XXY um
filme contemporâneo sobre a questão da identidade, e a estreante Lucía
Puenzo acerta em conduzir o filme com bastante delicadeza, evitando qualquer
abordagem sensacionalista ou vulgar do tema. Outro ponto interessante do
filme é como esses adolescentes se relacionam com os pais, ou seja, mais do
que um filme sobre o universo da adolescência, é um filme sobre a sua
interação com os pais. Seu olhar humanista, a vontade sincera de compreender
os vários lados da questão sem ser maniqueísta, apesar de às vezes ter
recursos um pouco desgastados, faz de XXY um drama surpreendente, cativante
e tocante, com representações muito intensas, especialmente dos dois
adolescentes Martín Piroyansky e Inés Efron (a hermafrodita). No final,
acaba sendo um filme simples mas honesto sobre a liberdade de escolha e de
respeito à diferença.

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