(FESTRIO 10) Cristóvão Colombo - o enigma
Cristóvão Colombo - o enigma
De Manoel de Oliveira
Estação Botafogo 1 sex 20hs
***½
.
Bote fé no velhinho que o velhinho é demais. Manoel de Oliveira é um enigma.
Aos 98 anos (é isso mesmo?), Oliveira parece ser um dos mais jovens
diretores do cinema contemporâneo, e ao mesmo tempo busca fazer um "cinema
pré-cinematográfico", com um enorme deslocamento e inclusão em tudo o que
vem sendo trabalhado em termos de cinema contemporâneo. Um verdadeiro
enigma. Ainda, este Cristóvão Colombo só comprova a regra dos grandes
autores: é preciso reinventar-se para continuar o mesmo. Cristóvão Colombo
parece uma mistura de Um Filme Falado com A Carta. Do primeiro, a
necessidade de se fazer um filme didático, como se fossem os filmes que
Rossellini fez para a TV. Já falei em detalhes sobre isso na época de Um
Filme Falado: um falso filme didático ("aqui é a casa onde nasceu Colombo",
"essa é a estátua de Colombo"), um filme que na aparência poderia ser um
institucional do governo português ou ainda publicitário de uma agência de
turismo, mas que no fundo é exatamente o oposto disso. Claro, é só prestar
atenção no prólogo, um prólogo duro que lembra o de Os Sem-Esperança: os
documentos histórios, conforme lidos, podem apontar para um fato ou ainda
exatamente para o seu contrário (é um filme pois sobre a representação da
História). De outro, é uma história de amor. Há uma cena linda em que a
velhinha quase ao final da vida pergunta ao marido se ele realmente a ama,
ou se ama mais o seu desejo de tentar descobrir a nacionalidade de Colombo.
Só que ele nunca vai descobrir, porque a objetividade do conhecimento é vã,
ou se não é vã, não oferece respostas definitivas, mesmo um simples fato
histórico. Mas há que se permanecer tentando, buscando, descobrindo, e há
que se preservar os rastros desse percurso: essa é a sabedoria do cinema
didático de Oliveira.
.
De um humor, frescor e rigor surpreendentes, Cristóvão Colombo é um filme
sobre algumas coisas (sobre a inefável busca pelo conhecimento, sobre a
crise da objetividade do registro, sobre a representação da História, sobre
um caso de amor, sobre a origem da nação portuguesa) mas ao mesmo tempo
prossegue em nós o fascínio de sobre o quê é este filme. Por fim, é também
um filme sobre a representação do passado, e o descompasso entre esse
passado e o presente, assim como a organização da mise-en-scene do estranho
A Carta, adaptação contemporânea de um romance do século XV. Isso é nítido
quando Oliveira vai filmar em Nova York, com os enquadramentos mais
originais e estranhos que um cineasta já fez sobre essa cidade! Essa
singeleza, misturada a uma incrível irreverência, aumentam neste filme
porque, lá pela sua metade, aparece ninguém menos que o próprio Manoel de
Oliveira e esposa a atuar no filme! Permanecer tentando, embora se saiba que
não se irá ter as respostas (não todas mas pelo menos algumas): aos 98 anos
é o que faz o mestre Oliveira para nosso deleite.
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De Manoel de Oliveira
Estação Botafogo 1 sex 20hs
***½
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Bote fé no velhinho que o velhinho é demais. Manoel de Oliveira é um enigma.
Aos 98 anos (é isso mesmo?), Oliveira parece ser um dos mais jovens
diretores do cinema contemporâneo, e ao mesmo tempo busca fazer um "cinema
pré-cinematográfico", com um enorme deslocamento e inclusão em tudo o que
vem sendo trabalhado em termos de cinema contemporâneo. Um verdadeiro
enigma. Ainda, este Cristóvão Colombo só comprova a regra dos grandes
autores: é preciso reinventar-se para continuar o mesmo. Cristóvão Colombo
parece uma mistura de Um Filme Falado com A Carta. Do primeiro, a
necessidade de se fazer um filme didático, como se fossem os filmes que
Rossellini fez para a TV. Já falei em detalhes sobre isso na época de Um
Filme Falado: um falso filme didático ("aqui é a casa onde nasceu Colombo",
"essa é a estátua de Colombo"), um filme que na aparência poderia ser um
institucional do governo português ou ainda publicitário de uma agência de
turismo, mas que no fundo é exatamente o oposto disso. Claro, é só prestar
atenção no prólogo, um prólogo duro que lembra o de Os Sem-Esperança: os
documentos histórios, conforme lidos, podem apontar para um fato ou ainda
exatamente para o seu contrário (é um filme pois sobre a representação da
História). De outro, é uma história de amor. Há uma cena linda em que a
velhinha quase ao final da vida pergunta ao marido se ele realmente a ama,
ou se ama mais o seu desejo de tentar descobrir a nacionalidade de Colombo.
Só que ele nunca vai descobrir, porque a objetividade do conhecimento é vã,
ou se não é vã, não oferece respostas definitivas, mesmo um simples fato
histórico. Mas há que se permanecer tentando, buscando, descobrindo, e há
que se preservar os rastros desse percurso: essa é a sabedoria do cinema
didático de Oliveira.
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De um humor, frescor e rigor surpreendentes, Cristóvão Colombo é um filme
sobre algumas coisas (sobre a inefável busca pelo conhecimento, sobre a
crise da objetividade do registro, sobre a representação da História, sobre
um caso de amor, sobre a origem da nação portuguesa) mas ao mesmo tempo
prossegue em nós o fascínio de sobre o quê é este filme. Por fim, é também
um filme sobre a representação do passado, e o descompasso entre esse
passado e o presente, assim como a organização da mise-en-scene do estranho
A Carta, adaptação contemporânea de um romance do século XV. Isso é nítido
quando Oliveira vai filmar em Nova York, com os enquadramentos mais
originais e estranhos que um cineasta já fez sobre essa cidade! Essa
singeleza, misturada a uma incrível irreverência, aumentam neste filme
porque, lá pela sua metade, aparece ninguém menos que o próprio Manoel de
Oliveira e esposa a atuar no filme! Permanecer tentando, embora se saiba que
não se irá ter as respostas (não todas mas pelo menos algumas): aos 98 anos
é o que faz o mestre Oliveira para nosso deleite.
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O Livro: O Mistério Colombo Revelado
Christopher Columbus is dead Unmasking Columbus Website