Batman Begins

Batman Begins
De Christopher Nolan
Cinemark Botafogo 1 dom 17 julho 11:10


Busquei o horário mais insólito para que eu pudesse ver um filme sem riscos no Cinemark: um domingo de sol às 11:10 da manhã. Mas qual o meu espanto quando vejo que a fila (cheia de mães com suas criancinhas) era tão grande que ia até o MacDonalds?!!! Xinguei todos os nomes, até perceber que a fila não andava, e logo vi que a bilheteria ainda não tinha aberto! Isso ainda que tivesse uma sessão de Madagascar às 11hs e uma de Herbie – Meu Fusca Turbinado (??!!) às 11:20. Então a gerente saiu do cinema e gritou a todos: “fellows, sessão liberada”. Então, vi o Batman de graça, e ainda assim, a sala ficou bastante vazia, permitindo que eu visse o filme sem grande estresse.

Não tenho muita paciência para esses filmes de ação como Batman, mas esse até que não é dos piores. Mas acho graça quando alguém (especialmente os críticos) dizem que o filme é uma obra-prima, e já ouvi o termo da boca de mais de uma pessoa. Porque claramente Batman é, apesar da opulência da produção, um filme menor, um passatempo ligeiro, um filme condenado a ser esquecido meia mordida de BigMac depois. O filme é repleto de tramas psicanalíticas e de dizeres protofilosóficos do mais típico cinema americano (culpa, vingança, limites pessoais, etc). É uma “filosofia de botequim”, mas não deixa de ter seus momentos de validade, ainda que em toda a sua superficialidade. “Pra que caímos? Para que possamos nos levantar...”, e coisas do tipo. Toda a parte do “ensinamento oriental” é, como sempre, de uma grande balela e clichês longamente vistos. E como o típico cinema americano, é um filme que fala da construção de uma moral. Fala sobre uma idéia de justiça (a principal vertente do filme), sobre a importância da educação, da família e das origens (o filme tem momentos de pedagogia), sobre como é importante superar os medos e os traumas, etc. No Brasil de hoje, repleto de mensalões e coisas do gênero, Batman é uma ficção científica profundamente atual e relevante.

Batman me trouxe duas lições. A primeira é que a “elite” não pode ignorar o crescimento da marginalidade, ela deve se incluir no processo de “recivilização” para que o caos não ameace seu status quo (isso vai ser trabalhado de forma muito mais ambígua em Tropas Estelares). A Gotham City de Batman me lembrou a Rocinha, entre o morro e os casarões de São Conrado. A segunda é ainda mais importante, e que ficou me ressoando após o filme. Batman não conseguiria transformar aquele mundo sem o auxílio da tecnologia. Ou seja, não é possível mais fazer revoluções nesse mundo sem o domínio da tecnologia. A se pensar. Batman veio da elite, isto é, ele não era um daqueles miseráveis dos becos de Gotham que queria um mundo mais justo. Ele queria restabelecer toda uma série de princípios dos seus pais (notem como o início do filme é todo filmado de forma bela, com jardins, etc.). Ou seja, Batman tende a ser um filme reacionário.

A direção de Nolan é discreta, equilibra a parte da “psicologia de botequim” com a das cenas de ação de forma competente. Ou seja, foi um artesão dedicado a recriar uma atmosfera em busca do mito, e em busca dos velhos sonhos da sociedade americana. Nada mais, nada menos. Mas quinze minutos depois, fica a pergunta: “sobre o quê é esse Batman Begins mesmo?” ou “O que vimos de novo, ou de realmente inquietante?”. Hmmmm.....

Comentários

Anônimo disse…
Meu caro: Por uma questão profissional, preciso ver o filme de Batman. Mas até agora ainda não me resolvi. De qualquer maneira, não espero que seja uma obra-prima. Obra-prima, por exemplo, é 'Um filme falado'. Um abraço.

Postagens mais visitadas