Tinha escrito o texto mas esquecido de postar, então agora vai...

 

Porto da Minha Infância

De Manoel de Oliveira

DVD

** ½

 

Porto da Minha Infância tem um objetivo aparentemente modesto: é quase um filme de encomenda, proposto pelo produtor Paulo Branco a Manoel de Oliveira por ocasião do evento Porto 2001 – Capital Européia da Cultura. Como a cidade estava quase inteiramente em obras, Oliveira optou por fazer um retrato afetivo da cidade que o diretor tem em suas memórias, ou seja, um Porto íntimo, mais que um Porto objetivo. Além disso, foi a oportunidade de Oliveira resgatar suas origens, já que seu primeiro filme, Douro, Fauna Fluvial também era um documentário sobre a cidade. Mas o estilo de cinema de Oliveira é claramente perceptível: a busca por um cinema clássico, de grande elegância formal, os planos longos, o campo-contracampo, a voz off e a preferência pela palavra, o extremo rigor do uso dos elementos de linguagem. A cidade do Porto ontem e a cidade do Porto hoje: duas cidades e a mesma cidade. Dois cinemas e o mesmo cinema. A origem e o presente. Com grande simplicidade mas com grande singeleza, Oliveira vê o Porto de ontem a partir de um olhar presente. Essa nostalgia é então contrabalançada por uma vontade de viver. É como diz o mestre Paulinho da Viola “Eu não vivo no passado; é o passado que vive em mim.”. Esse tema da revisitação a partir de hoje ganha aspecto especial (quase um plano-síntese) no final quando Oliveira mostra o pioneiro do cinema português filmando a saída dos operários das fábricas no Porto de hoje. Por trás disso, a câmera de Oliveira “recria essa recriação” (ou ainda, por trás da câmera do pioneiro português, há a câmera de Oliveira). A voz em off e as seqüências encenadas nem todas têm o mesmo brilho mas a marca de Oliveira está sempre no filme.

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