Dura Lex (By The Law)

Dura Lex
de Lev Kuleshov
Emule, seg 20 17hs
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"Quem sabe faz, quem não sabe, ensina". O grande Lev Kuleshov pareceu colocar o ditado à prova durante sua vida. Mestre de cineastas russos como Eisenstein e Pudovkin, Kuleshov, em seu laboratório, desenvolveu uma obsessão por um dos aspectos da linguagem cinematográfica: a montagem. Com isso, em seus experimentos (o mais famoso, o "efeito Kuleshov"), deixou uma marca definitiva no cinema silencioso russo, todo calcado na teoria da montagem. Mas por outro lado o professor acabou ficando à sombra de seus alunos, e, hoje, Kuleshov, é muito mais conhecido como teórico do que como realizador.

Mas Kuleshov também fez seus filmes. O mais famoso deles é o primeiro que tive acesso, graças ao emule. Trata-se de Dura Lex (Po Zakonu), de 1926. Na mesma época que Greed, Kuleshov desenvolve um pequeno estudo psicológico sobre o efeito da cobiça no ser humano. Mas como os experimentos do laboratório de Kuleshov, Dura Lex é um pequeno estudo sobre a linguagem cinematográfica, uma obra de enorme poder de concisão. Grande parte do filme se passa entre três personagens dentro de um quarto. A forte motivação psicológica, a tendência ao fatalismo, a claustrofobia do ambiente nos remetem a alguns efeitos do expressionismo alemão, mas de fato a principal referência de Dura Lex é o cinema de Griffith, que sempre foi a grande paixão de Kuleshov. Além da presença marcante da montagem (especialmente na sequência da morte dos dois garimpeiros), a principal herança griffithiana está no tema de edificação moral (o criminoso deve ser julgado "pela lei"), um tanto raro nos filmes russos de então. Mas essa própria leitura "moralista" do tema é desconstruído no final, quando o casal decide julgar por si mesmos o criminoso, e praticar a sentença, e, ainda assim, o fim coloca um peso amargo sobre a covardia do casal.

Mas a principal virtude de Dura Lex é como Kuleshov utiliza o espaço físico como elemento marcante de dramaturgia. Há um nítido contraste entre o começo e o fim - filmados numa externa - e a parte central do filme, toda dentro de um quarto. Ao longo do filme, as estações do ano passam, dando uma idéia de tempo, e se inserindo na narrativa (o temporal, o degelo, etc.). O clima claustrofóbico da parte central do filme entra em grande constraste com a liberdade das partes inicial e final. No fim, a decupagem, primeiro com planos gerais, depois com criativos planos próximos que valorizam o extracampo, dá a síntese desse filme de Kulheshov: um exercício de contenção de grande domínio e sabedoria no uso dos elementos de linguagem, quase como se fosse um prolongamento das suas experiências no laboratório Kuleshov. O que não o impede de fazer uma obra acabada e definitiva, até porque escapa do clima de propaganda das produções da época.

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