SEM AMOR



LOVELESS
de Andrey Zvyagintsev




Belíssimos e elaboradíssimos planos em torno de uma tautologia. É difícil empreender uma avaliação negativa de LOVELESS, por conta da beleza de suas imagens e pela coerência de sua construção. Árvores cobertas de neve que, secas, caem ao solo. Assim é a natureza humana. Assim é o cinema de Zvyagintsev. Um casal que não se quer mais e se ofende, uma criança indefesa que sofre as consequências. Neve, solidão, individualismo, celulares, sexo. Mais planos de incrível beleza para mostrar a solidão. Não há propriamente dor, mas uma indiferença. Planos longos, silêncios, contemplação, questões morais, bela fotografia. Cinema contemporâneo, por não apresentar causas nem psicodrama. Mas o risco é o de parecer tão anódino quanto seus personagens. O arremedo de drama político é quando pensamos que esse casal é a Rússia de hoje.

Cada plano reitera o projeto de cinema de Zvyagintsev. Como informa o (tautológico) título, SEM AMOR é um conto moral de boas intenções, que denuncia a falta de humanismo e o individualismo da sociedade contemporânea. Com belas imagens e silêncios, e muita elegância formal, o filme é na verdade extremamente redundante, e extremamente avesso ao que verdadeiramente o cinema pode representar como experiência humana, como gosto pelo risco, como desejo por viver a vida, por andar de pés descalços. Como seus personagens, o filme de Zvyagintsev não tenta viver, acomoda-se em contemplar sua beleza vazia.

A trama de SEM AMOR poderia nos remeter à Aventura de Antonioni, ou mesmo a Shara, de Kawase, por abordar as consequências de uma desaparição. Mas esses filmes apostam no desvio como sinal do imprevisto da vida, como lampejo que aponta para a incompletude, para a necessidade da mudança. Cheios de dor, de angústia, de tédio, esses cineastas buscavam em seus filmes abrir janelas para o mundo, e não fechá-las. Nesses filmes, a desaparição desestabiliza não apenas a alma dos personagens mas a própria estrutura do filme, que precisa se reorientar para encontrar um novo sentido no mundo, uma outra moral, uma outra forma de continuar enfrentando o desafio de estar vivo, de se lançar ao mundo. Não é o que propõe SEM AMOR. Aprisionado em sua bela tautologia, Zvyagintsev faz um falso cinema humanista, um elaborado castelo de cartas, friamente emoldurado para os prêmios nos festivais internacionais de prestígio e para as relações de libelo politizado.


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