Revi O Pai dos Meus Filhos no Festival Varilux. É um filme simples da Mia Hansen-Love, mas mesmo sendo a segunda vez que o vi, o filme me causou um forte impacto emocional. Mia começou como atriz, depois tornou-se crítica de cinema da Cahiers, ficou conhecida como esposa de Assayas, até que realizou dois filmes notáveis, especialmente este segundo. O Pai dos Meus Filhos, apesar do título masculino, é sobre a força das mulheres, que sobrepuja um mundo indiferente. A meu ver, é quase uma resposta a Água Viva, filme do marido Assayas sobre o universo do cinema. Ou seja, esse filme é quase um comentário sobre o suposto papel de Mia à sombra de seu marido famoso. A intuição das mulheres sobre o falho suposto racionalismo dos homens. (as mulheres são muito mais seguras que os homens) O Pai dos Meus Filhos tem vários méritos. Um dos principais é humanizar uma figura estereotipada, demonizada nos filmes: o papel do produtor. Hansen-Love faz um filme basicamente narrativo, em que ela entrega para os atores (especialmente as atrizes) a força de seu filme. No entanto, ela observa com sabedoria, e o filme tem várias modulações de tom muito bem encaixadas. O que me encanta tanto neste admirável filme é como a diretora entrelaça cinema, família e vida. Ou ainda, como as relações entre o trabalho e a vida são vistas a partir de um cinema que cruza as fronteiras da encenação para abraçar o olhar e o corpo dos seus personagens. Na forma orgânica como entrelaça esses três aspectos, o filme é um grande observador de seu próprio tempo, e nisso o filme é realmente muito belo. É como o filme apresenta viradas: de filme engraçadinho sobre o dia-a-dia aventuresco de um produtor de cinema, passa a ser um filme sobre o luto, e logo depois passa a ser um filme sobre uma filha que descobre quem é o seu pai, e que tem que aprender a amadurecer a fórceps. De “o pai dos meus filhos” a “a filha do meu esposo”, Hansen-Love expõe de forma madura, delicada mas muitas vezes cruel, o “do que são feitos os sonhos” do universo do cinema. “todos te admiram mas ninguém te ajuda”: o solitário produtor atormentado pela avalanche da urgência do cinema como negócio vê seus sonhos fracassarem, incompreendido. O Pai dos Meus Filhos é quase como O Bravo Guerreiro. Mas aqui Mia dá um passo a mais: ela busca analisar que as repercussões dos nossos atos não atingem somente a nós mesmos mas a todo um mundo em nosso entorno. No fim, pouco resta. Talvez os filmes, mas do que eles são feitos mesmo? Tudo é muito frágil e passageiro. Por isso mesmo é impressionante como Mia imprime alguns desses momentos no rosto e no corpo de suas atrizes. Nisso Mia se alinha a um cinema contemporâneo: desses fugidios momentos é que são feitos o cinema, a vida, os sonhos. É o que nos resta, muito mais do que os filmes.
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