O Baixio das Bestas
De Cláudio Assis
Unibanco Arteplex ter 15 20hs
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E eis o novo filme do Cláudio Assis, após a repercussão de Amarelo Manga. É um filme que merece cuidado a ser analisado, pois em casos como esse, é muito fácil deixar a paixão contaminar nossa visão, seja para um lado (o genial enfant terrible que sacode as estruturas do careta cinema brasileiro ficcional) quanto para o outro (o imbecil que gosta de aparecer e chocar sem ter nada para dizer). Esses antagonismos confundem mais do que esclarecem a proposta de Cláudio Assis, até porque essa proposta (em se tratando de haver proposta) não é clara, é difusa, não está meramente nas superfícies dos palavrões e do choque fácil.
De qualquer forma, chega a ser quase um consenso que Assis radicaliza os rumos apresentados
De um lado, ficamos com a impressão de ser essa mera sobreposição entre o estilo desbocado de Assis e o olhar fotográfico de Walter Carvalho. Mas de outro, é preciso refletir sobre as cenas em que se expõe um sentido de perversão e uma idéia do espetáculo. Por um lado, é quase como se o filme fizesse uma espécie de “denúncia” (o termo não é bom, mas dá idéia do que quero dizer) de uma sociedade moralista, machista e repressora. Mas por outro, há um certo prazer com que Assis filma essas cenas, em como a encenação valoriza a idéia da sedução e do espetáculo. Há um prazer voyeurístico/escopofílico como a mise-en-scene abraça esses homens que se batem entre si e batem nessas mulheres. Por isso, às vezes fico tentado a achar que Assis é tão moralista e reacionário quanto seus personagens, e penso como a extrema esquerda e a extrema direita são irmãs de sangue.
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Há uma certa ingenuidade na tentativa de apreender esse universo bruto, com recursos de estilo desgastados e clichês psicológicos (principalmente o Velho). Um excesso de câmeras no teto que me passa um olhar de cima, longe de tudo, que me incomoda muito mesmo. O que mais me convence é a atmosfera do “em torno” da menina (a ótima Mariah Teixeira): quando ela caminha pelo canavial, quando toma banho num rio, quando pega um ônibus, etc. Nesse cinema que observa esse percurso ao invés de querer escarrar na cara do espectador. Tem tbem um bonito plano inicial (depois das fotos na usina), quando a câmera faz um recuo e mostra a menina nua, o velho, os voyeurs punheteiros que pagam pela diversão, e o Caio Blat, que pertence a outra classe, lá atrás, adorando e odiando tudo isso, querendo amar e matar essa menina, esse velho, todo mundo, até acabar na cruz da igreja. Os punheteiros, (por que não?) somos nós, os espectadores. É curioso como esses personagens do Assis não conseguem amar: eles preferem escarrar, agredir, do que realmente tentar se expor, tentar se abrir. Talvez seja um sintoma do próprio cinema do diretor.
Eu acredito em um cinema mais generoso. Não precisa ser positivo ou otimista, mas tem que ser generoso. Mas aí o problema é meu, e não do filme. Meu slogan: “O Baixio da Besta (sic) é uma merda mas vale a pena”.
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