Pintar ou fazer amor

De Arnaud e Jean-Marie Larrieu

Cine Santa, dom 14hs

* ½

 

Uma estranha falsa comédia dos irmãos Larrieu, exibida em competição em Cannes (um pequeno exagero). Estranha porque durante quase 40 minutos de filme ficamos entediados com uma narrativa convencional sobre um casal burguês (Sabine Azéma e Daniel Auteuil, ambos corretos) que resolve entrar na terceira idade saindo da cidade para morar no campo. Encantam-se com o clima bucólico e gastam mais tempo de sua vida frívola tentando respirar um ar mais fresco. Mas aí cada vez mais o filme vai ficando estranho. Não tanto no enquadramento e mise-en-scene, francamente convencionais, mas já o faz pela fotografia soturna, em interiores escuros, nitidamente subexpostos, que dá a essa paisagem bucólica um clima misterioso, levemente ameaçador. Interessante porque Auteuil é um meteorologista e Sergi Lopez faz o papel de um prefeito que é cego (??!!). É quando acontece um incêndio no meio do filme. Truque convencional de roteiro, esse incêndio incendeia o filme, o vira pelo avesso. É então que o filme se revela uma comédia irônica, farsesca, sobre as hipocrisias da sociedade conservadora e burguesa francesa. Pintar ou fazer amor vira um filme sobre o swing. Quase um O Quatrilho francês. Ainda que convencional (ficamos pensando o que os diretores fariam se fossem italianos...), o filme acaba surpreendendo. Com um final bonito, preciso, exato, acaba sendo um exame simples (às vezes simplório) sobre a possibilidade de se viver com liberdade, afastando tabus ou preconceitos, ainda que tardiamente. A forma elegante e irônica como os irmãos diretores franceses conduzem o filme tem o seu charme em alguns momentos mas a verdade é que o filme acaba ficando no meio do caminho de seu pressuposto subversivo. De qualquer forma, não é totalmente dispensável.

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