Plataforma
De Jia Zhang-Ke
CCBB sab 4 20hs
***½
O que dizer sobre Plataforma? Desde sexta-feira passei o dia ansioso para chegar a hora de ver o filme, depois de ter visto Prazeres Desconhecidos e sobretudo O Mundo, este último no último FestRio. A expectativa era enorme. O filme, se não fez comprová-la, afirmou a coerência e a maturidade do olhar de Zhang-Ke, e que seu brilhante cinema apresentado
Plataforma é sobre duas coisas: primeiro, sobre o desmantelamento do papel da arte na sociedade contemporânea; segundo, sobre as transformações econômicas da sociedade chinesa, a transição do comunismo para o capitalismo. Mas com isso não esperemos nem o xarope de Zimou (Nenhum a Menos) nem o deslumbramento romântico de Kaige (Adeus minha concubina), e sim um cinema extremamente severo e rigoroso sobre o entrelaçamento da arte, da economia, da sociedade, enfim, no dia-a-dia das pessoas.
Zhang-Ke trata o tema com um profundo senso de observação e uma profunda complexidade, sem utilizar nenhum “artifício” para caricaturizar essas relações. Seu cinema surge de uma relação extremamente orgânica entre os diversos níveis de realidade e representação. Com isso, seus filmes promovem uma importantíssima contribuição contra o tom esquemático da narrativa clássica, baseada nos princípios duais de causa-efeito, identificação dos personagens, pontos de virada, etc. As transformações nos filmes de Zhang-Ke são feitas na cabeça do espectador, que passa a conviver com os personagens ao invés de observá-los, ou julgá-los. Um cinema que se confunde com a vida, mas que assume a maturidade de vê-lo (o cinema) como um processo de representação. Com isso, Zhang-Ke, ao fugir dos cacoetes da grife do cinema autoral, se torna um dos mais importantes e sérios autores contemporâneos.
A câmera fixa (ou móvel de forma bastante lenta), os longos planos-seqüência, a concentração nos “tempos fracos” da narrativa, o mosaico de personagens, trabalhados com muita espontaneidade pelos atores, o tom sóbrio e rigoroso, se revelam recursos de estilo que, de forma absolutamente original e inventiva, refeltem sobre o papel do cinema e da representação ao abraçar uma “realidade” (dos aspectos “micro” aos aspectos “macro”), entrelaçando-os de forma complexa e em toda a sua organicidade.
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