ontem vi Rosetta pela sétima vez. Pela sétima vez descobri, redescobri coisas. Descobri, me lembrei. Percebi relações entre planos, paralelismos, a construção sutil de elementos. Desmontei um pouco mais o brinquedinho. Ao mesmo tempo me emocionei, torci, sofri como na primeira vez. Ou melhor, de outra forma, mas ainda assim o senti forte dentro de mim. Percebi que Rosetta fala de mim hoje, neste momento, que sou a menina tola que não consegue receber afeto, que corre pelas ruas querendo “uma vida normal” mas sem nada ver. Que corre tolamente. A essência de Rosetta nem é tanto o preciso retrato social da precariedade do trabalho e da falta de perspectivas dos jovens na Europa pós-União Europeia ou mesmo a linguagem asfixiante dos Dardenne, com sua câmera inquieta e som hiper-realista que dão ao filme seu caráter tão urgente e inquietante. Mas o que o faz verdadeiramente ser tão pungente é ser sobre uma pobre menina que não lhe parece mais ser possível ouvir “eu te amo”, imaginar que possa ser amada e que ela precisa de ajuda e de afeto. Se ela não consegue ouvir “eu te amo”, quanto mais a possibilidade de dizê-lo...

quando ontem vi Rosetta pela sétima vez, percebi que, para poder dizer "eu te amo", é preciso, antes de tudo, ouvir você.

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