Adventureland

A princípio, ADVENTURELAND (“Férias Frustradas de Verão”, título, aliás, horroroso...) surpreende para quem viu SUPERBAD. Aqui, ao invés das estripulias de uma comédia maluca para adolescentes, no ritmo dos filmes high-school e do protótipo de American Graffiti, há uma unidade dramática maior, um filme mais coeso, mais delicado. Mas pode surpreender para quem viu SUPERBAD sem prestar atenção no final, uma enorme declaração de intenções do cinema de Motolla. Nesse final (repito, antológico), fica claro que SUPERBAD é acima de tudo um “romance de formação”, ou ainda, um filme sobre uma despedida e um encontro. A despedida marca o fim desse processo de amadurecimento.

ADVENTURELAND, nesse sentido, dá continuidade ao final de SUPERBAD. O filme se passa num entremeio temporal e espacial. Temporal, porque se dá num tempo de espera, nas férias logo depois de o protagonista se formar na Universidade, nesse sentido quase que uma continuação de SUPERBAD (além disso, o filme começa com uma cartela informando que se passa em "1987"). Só que agora ele precisa trabalhar para ganhar o dinheiro que falta para uma viagem à Europa, e nesse trabalho encontrará pessoas que acelerarão seu rito de passagem. SUPERBAD começa como um filme “quase fútil”, e aos poucos, vai desvelando suas intenções mais recônditas: ser um filme sobre o valor da amizade. ADVENTURELAND já se revela desde o primeiro plano: um close de Jesse Eisenberg para o extracampo, com tudo o mais fora de foco, num certo deslocamento do tempo e do espaço. Um olhar para uma mulher (não mais para um amigo): um olhar que deseja uma relação de verdade (não somente sexo), mas parece que isso não é o suficiente (ou ainda, esse olhar não é correspondido). Todo o percurso do filme é em direção à possibilidade de esse plano possuir um contracampo adequado. E quando isso se dá – no último plano do filme – é claro que acontece num só plano. E ao invés do olhar, há o corpo. Ou melhor, não são apenas os olhares que se cruzam, mas os corpos.

Esse entremeio é também do espaço. É lindo o título original (um filme entre a despedida das tolas aventuras de brinquedo e a “dor e a delícia” da aventura de viver e de amar) e a ideia de passar todo o filme num parque de diversões meio decadente, que os funcionários claramente “não curtem” o lugar. Esse parque é uma espécie de lugar transitório em que os personagens inevitavelmente pertencem a ele mas ao mesmo tempo não querem mais pertencer, querem deixar para trás, como espelho da própria adolescência e do próprio sentimento dos personagens. A relação de proximidade e distanciamento dos personagens em relação ao espaço físico é análoga à que eles possuem em relação a si mesmos.

O pequeno mundo de Adventureland funciona quase como uma provinciana cidade do interior, com sua micropolítica, com suas picuinhas, boatarias e relações de poder. Para fazer filmes, é preciso, antes de tudo, ser um bom observador. Neste que é claramente um filme menor, Motolla confirma sua vocação de observador dos sentimentos da juventude, optando por uma dramaturgia de contenção ao invés de pulverizar as ações como no seu anterior SUPERBAD. São dois filmes de opções de encenação diferentes, mas no fundo saímos com a impressão de que ambos são sobre a dificuldade de se dizer “eu te amo” pela primeira vez.

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