Üç Maymun
Três Macacos
De Nuri Bilge Ceylan
Espaço de Cinema 2 sab 30 21:15
*
Quando vemos toda a recepção positiva em torno de um projeto como Três Macacos, começamos a desconfiar dos rumos do dito cinema contemporâneo. Três Macacos é um filme de um artesão que domina a gramática cinematográfica, domina um certo território afim a um cinema contemporâneo, a um certo cinema afeito aos principais festivais internacionais do momento, mas o problema – pelo menos neste filme, o único que vi do diretor turco Nuri Bilge Ceylan – é que esse domínio serve apenas para demarcar um território e nunca para problematizar essa demarcação – o que me parece o papel primeiro de uma “obra de arte”, ou pelo menos das que me interessam. Três Macacos tem um fiapo de roteiro, e esse roteiro é bastante básico (uma mulher trai um marido que é preso), mas o problema não é nem esse, até porque quantos filmes exemplares já vimos que se sustentam em um fiapo de história e justamente o que é mais interessante é a forma como esse “pouco” é trabalhado cinematograficamente? Por isso, a princípio Três Macacos parece um filme exemplar, um “filme de direção”, pois Ceylan tem uma vontade de trabalhar a linguagem cinematográfica, pois seu filme é todo composto de um certo clima particular, ao invés de desdobramentos narrativos. Mas o que acontece em Três Macacos é que justamente a busca por “esse estilo imperioso além de uma narrativa” não funciona como forma de libertação das amarras cada vez mais desgastadas de uma narratividade, e sim acaba sendo uma espécie de âncora, falso recurso libertário que prende Ceylan a um “estilismo” que no final soa tão ou mais desgastado do que essa mesma óbvia narratividade que seu cinema procura a princípio se afastar. Se o filme é composto por imagens com um enorme senso de plasticidade, com uma opção pelo silêncio e pela solidão, Ceylan permanece longe de entender seus personagens, de torná-los criaturas verdadeiramente humanas e complexas: permanecem atados a motivações um tanto simplórias, a saídas um tanto banais. Se percebermos bem, há sim uma narratividade um tanto básica em Três Macacos, que nos faz desvelar inclusive um moralismo: a denúncia ao império do dinheiro, a como os personagens vendem sua própria família por dinheiro. A partir do pai da família se deixar prender no lugar de um político, há um progressivo percurso de desagregação dessa família, traições, brigas, separações. Não chega a ser particularmente ruim, mas mais propriamente decepcionante, pois o turco Ceylan se revela inclinado a buscar um cinema das sensações, dos silêncios, dos climas, mas esse pressuposto comum é diretamente rompido a partir do próprio desenvolvimento dessas premissas (é como se o filme assumisse essas mesmas premissas para desenvolvê-las de modo antagônico), como se se buscasse um cinema de sensações para compor um trabalho meticuloso e premeditado. Por isso, é interessante a comparação feita por Ely Azeredo (??!!) do cinema de Ceylan com o de Reygadas, mas acontece que essa aproximação nos dois autores se dá de forma inversa (pelo menos como me parece): o tom frio e formal do cinema de Reygadas (ou de Dreyer, ou de Bresson) surge de uma reação de uma consciência de um desespero diante da tragicidade do mundo, enquanto Ceylan, pelo menos nesse filme, fecha os poros de seu filme para o mundo, enclausurando-os no limitado circuito das relações formais internas ao próprio filme e do circuito dos festivais internacionais. Por fim, não se pode deixar de comentar a tenebrosa exibição em digital, que destrói qualquer possibilidade de se falar da brilhante fotografia do filme.
De Nuri Bilge Ceylan
Espaço de Cinema 2 sab 30 21:15
*
Quando vemos toda a recepção positiva em torno de um projeto como Três Macacos, começamos a desconfiar dos rumos do dito cinema contemporâneo. Três Macacos é um filme de um artesão que domina a gramática cinematográfica, domina um certo território afim a um cinema contemporâneo, a um certo cinema afeito aos principais festivais internacionais do momento, mas o problema – pelo menos neste filme, o único que vi do diretor turco Nuri Bilge Ceylan – é que esse domínio serve apenas para demarcar um território e nunca para problematizar essa demarcação – o que me parece o papel primeiro de uma “obra de arte”, ou pelo menos das que me interessam. Três Macacos tem um fiapo de roteiro, e esse roteiro é bastante básico (uma mulher trai um marido que é preso), mas o problema não é nem esse, até porque quantos filmes exemplares já vimos que se sustentam em um fiapo de história e justamente o que é mais interessante é a forma como esse “pouco” é trabalhado cinematograficamente? Por isso, a princípio Três Macacos parece um filme exemplar, um “filme de direção”, pois Ceylan tem uma vontade de trabalhar a linguagem cinematográfica, pois seu filme é todo composto de um certo clima particular, ao invés de desdobramentos narrativos. Mas o que acontece em Três Macacos é que justamente a busca por “esse estilo imperioso além de uma narrativa” não funciona como forma de libertação das amarras cada vez mais desgastadas de uma narratividade, e sim acaba sendo uma espécie de âncora, falso recurso libertário que prende Ceylan a um “estilismo” que no final soa tão ou mais desgastado do que essa mesma óbvia narratividade que seu cinema procura a princípio se afastar. Se o filme é composto por imagens com um enorme senso de plasticidade, com uma opção pelo silêncio e pela solidão, Ceylan permanece longe de entender seus personagens, de torná-los criaturas verdadeiramente humanas e complexas: permanecem atados a motivações um tanto simplórias, a saídas um tanto banais. Se percebermos bem, há sim uma narratividade um tanto básica em Três Macacos, que nos faz desvelar inclusive um moralismo: a denúncia ao império do dinheiro, a como os personagens vendem sua própria família por dinheiro. A partir do pai da família se deixar prender no lugar de um político, há um progressivo percurso de desagregação dessa família, traições, brigas, separações. Não chega a ser particularmente ruim, mas mais propriamente decepcionante, pois o turco Ceylan se revela inclinado a buscar um cinema das sensações, dos silêncios, dos climas, mas esse pressuposto comum é diretamente rompido a partir do próprio desenvolvimento dessas premissas (é como se o filme assumisse essas mesmas premissas para desenvolvê-las de modo antagônico), como se se buscasse um cinema de sensações para compor um trabalho meticuloso e premeditado. Por isso, é interessante a comparação feita por Ely Azeredo (??!!) do cinema de Ceylan com o de Reygadas, mas acontece que essa aproximação nos dois autores se dá de forma inversa (pelo menos como me parece): o tom frio e formal do cinema de Reygadas (ou de Dreyer, ou de Bresson) surge de uma reação de uma consciência de um desespero diante da tragicidade do mundo, enquanto Ceylan, pelo menos nesse filme, fecha os poros de seu filme para o mundo, enclausurando-os no limitado circuito das relações formais internas ao próprio filme e do circuito dos festivais internacionais. Por fim, não se pode deixar de comentar a tenebrosa exibição em digital, que destrói qualquer possibilidade de se falar da brilhante fotografia do filme.
Comentários
Sou estudante e pesquisadora da UFSM. Estou realizando junto com outras colegas e um professor orientador um trabalho de pesquisa sobre o documentári gaúcho e gostaria de contar com a sua colaboração.
Por favor entre em contato comigo pelo e-mail: camila_d_araujo@yahoo.com.br
Um abs
Flávio Vianna