Tropas Estelares
De Paul Verhoeven
DVD, Seg 18 julho 5hs
***
É claro que todos sabemos que o cinema americano foi usado de forma muito intensa num esforço de guerra. E que depois da guerra o cinema americano continuou sendo usado no esforço da guerra do dia-a-dia. Mas dificilmente se poderia esperar um filme que colocasse a questão de forma tão aguda quanto Tropas Estelares, e ainda mais na forma de um blockbuster de ação, repleto de efeitos especiais. Já nos bancos escolares começa o processo de “pedagogia” da sociedade americana para converter os “civis” em “cidadãos”, ou seja, o processo de construção de uma sociedade fascista, que inibe a possibilidade da diferença pelo exercício da violência, da força. Enquanto Guerra dos Mundos mostra a repercussão do indivíduo comum ante ao ataque alienígena, Tropas Estelares mostra o implícito processo de formação de um mundo adulto em sintonia com os princípios de uma “civilização” de massa. Ou seja, enquanto o individualista filme de Spielberg é metafísico e melancólico, o de Verhoeven é político e irônico. São duas visões sobre a sociedade americana absolutamente complementares. A vantagem para o filme de Verhoeven é que ele foi feito quase dez anos antes. Vê-lo agora, entre o desmascaramento do discurso de esquerda no Brasil e os ataques terroristas nos EUA, torna-se ainda mais pungente e atual. Tropas Estelares é um filme absolutamente político, assustadoramente político sobre a política dos republicanos nos EUA. O falso telejornal (nos lembrou de Cidadão Kane) mostra criancinhas bringando por uma arma, e matando pequenos insetos como forma de propagação do ódio e da violência como instrumentos de domínio de uma sociedade de massas.
Verhoeven deve ter se inspirado em Os Pássaros de Hitchcock para ter um humor tão mordaz. A primeira metade do filme é sobre a inocência do mundo dos jovens, que está prestes a ser destruído pela necessidade do esforço de guerra. É uma preparação que entra em nítido contraste com a segunda parte do filme. Os adultos são todos mutilados, eles sofrem as cicatrizes de sua “política de segurança”. O casal de protagonistas que ajudam a salvar o mundo são Carmen e Rico, e moram em Buenos Aires (sensacional!!). A mise-en-scene é muito expressiva: o décor, a maquiagem dos personagens, as locações falam de um sentimento falso que domina o filme. Os franceses devem ter adorado: Tropas Estelares tem um humor refinado, sutil, muitas vezes cruel, bastante raro para um filme americano. É preciso alertar aos espectadores que a guerra é cruel, e que as pessoas não voltam. A complexa personagem de Carmen é um primor, e mereceria um texto a parte. Enfim, não é à toa que ninguém menos que Jacques Rivette levantou-se para defender o filme quando vários detratores acusaram Verhoeven de ter feito um filme fascista. Tropas Estelares é um filme importante, cada vez mais atual, e que nos faz pensar como existem malucos que conseguem fazer trabalhos incrivelmente pessoais e ousados dentro da cada vez mais conservadora indústria cinematográfica americana!
De Paul Verhoeven
DVD, Seg 18 julho 5hs
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É claro que todos sabemos que o cinema americano foi usado de forma muito intensa num esforço de guerra. E que depois da guerra o cinema americano continuou sendo usado no esforço da guerra do dia-a-dia. Mas dificilmente se poderia esperar um filme que colocasse a questão de forma tão aguda quanto Tropas Estelares, e ainda mais na forma de um blockbuster de ação, repleto de efeitos especiais. Já nos bancos escolares começa o processo de “pedagogia” da sociedade americana para converter os “civis” em “cidadãos”, ou seja, o processo de construção de uma sociedade fascista, que inibe a possibilidade da diferença pelo exercício da violência, da força. Enquanto Guerra dos Mundos mostra a repercussão do indivíduo comum ante ao ataque alienígena, Tropas Estelares mostra o implícito processo de formação de um mundo adulto em sintonia com os princípios de uma “civilização” de massa. Ou seja, enquanto o individualista filme de Spielberg é metafísico e melancólico, o de Verhoeven é político e irônico. São duas visões sobre a sociedade americana absolutamente complementares. A vantagem para o filme de Verhoeven é que ele foi feito quase dez anos antes. Vê-lo agora, entre o desmascaramento do discurso de esquerda no Brasil e os ataques terroristas nos EUA, torna-se ainda mais pungente e atual. Tropas Estelares é um filme absolutamente político, assustadoramente político sobre a política dos republicanos nos EUA. O falso telejornal (nos lembrou de Cidadão Kane) mostra criancinhas bringando por uma arma, e matando pequenos insetos como forma de propagação do ódio e da violência como instrumentos de domínio de uma sociedade de massas.
Verhoeven deve ter se inspirado em Os Pássaros de Hitchcock para ter um humor tão mordaz. A primeira metade do filme é sobre a inocência do mundo dos jovens, que está prestes a ser destruído pela necessidade do esforço de guerra. É uma preparação que entra em nítido contraste com a segunda parte do filme. Os adultos são todos mutilados, eles sofrem as cicatrizes de sua “política de segurança”. O casal de protagonistas que ajudam a salvar o mundo são Carmen e Rico, e moram em Buenos Aires (sensacional!!). A mise-en-scene é muito expressiva: o décor, a maquiagem dos personagens, as locações falam de um sentimento falso que domina o filme. Os franceses devem ter adorado: Tropas Estelares tem um humor refinado, sutil, muitas vezes cruel, bastante raro para um filme americano. É preciso alertar aos espectadores que a guerra é cruel, e que as pessoas não voltam. A complexa personagem de Carmen é um primor, e mereceria um texto a parte. Enfim, não é à toa que ninguém menos que Jacques Rivette levantou-se para defender o filme quando vários detratores acusaram Verhoeven de ter feito um filme fascista. Tropas Estelares é um filme importante, cada vez mais atual, e que nos faz pensar como existem malucos que conseguem fazer trabalhos incrivelmente pessoais e ousados dentro da cada vez mais conservadora indústria cinematográfica americana!
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