sete westerns de Budd Boetticher
Nesses dias consegui ver quase de uma tacada só os sete westerns que Budd Boetticher dirigiu na segunda metade da década de cinquenta estrelados por Randolph Scott e produzidos por Harry Brown Jr. (a RANOWN production – RANdolph-BrOWN). São todos sete filmes admiráveis, com uma grande unidade. Filmados em cerca de dez dias por uma equipe técnica muitas vezes comum, a maioria deles pela Columbia, filmados em locação na região de Lone Pine, Califórnia. São filmes simples, quase simplórios, mas absolutamente admiráveis. É difícil explicar exatamente o porquê. Se eu puder resumi-lo, é porque eles são feitos de cinema. Neles aparentemente nada há de excepcional, ou melhor, não há nada que pareça ultrapassar o mero cinema ordinário, nada, em termos de roteiro, atores, cenários, etc. A não ser uma coisa: são filmes feitos de cinema. Esse é o seu milagre, verdadeiro milagre. Não querendo fazer nada além de filmes, esses sete filmes de Boetticher com Scott são exemplos maravilhosos da quintessência do bom cinema americano. Acima de tudo, são filmes de uma extraordinária precisão, em que não há nenhum espaço para excessos, para nada que o distraia de sua função: a jornada moral do herói solitário. A encantadora frontalidade desse cinema – objetivo, pragmático, nada intelectual, mas ainda assim intenso, reflexivo, apaixonado – aparece como recurso ético para lidar com um mundo. O que me interessa nesses filmes de Boetticher é como, mesmo com todas as dificuldades, ele encontra uma posição ética firme em estar no mundo. Isso é mais que encantador, é comovente. Boetticher não “nasceu para ser cineasta”, não era “o sonho de sua vida”, não queria “mudar o mundo fazendo filmes”, mas ainda assim o foi e o fez. Budd foi vaqueiro, pugilista, fez de tudo, até acabar fudido. Nesse caminho, fez vários filmes, os principais deles esses sete admiráveis filmes num espaço de cinco anos. O western foi naturalmente a expressão mais autêntica do cinema de Boetticher: um espaço físico, um cavalo, uma mocinha, uma amargura, um passado. Sempre um cinema de ação e uma questão ética. A posição ética do herói é exposta mas nunca através da psicologia do teatro romanesco, mas através de uma encenação frontal em que um corpo precisa atravessar um espaço, olhar e ser olhado, e assim estar no mundo e tomar decisões, custem o que custar. Essa frase tenta mostrar a beleza do projeto de Boetticher, sua precisão e seu desafio. O tom aparentemente grosseirão dessa encenação e desse personagem não conseguem apagar seu profundo refinamento. Uma forma ética de estar no mundo. Gostaria de escrever mais, dando exemplos, mas quero acabar aqui citando um ponto que me comove muito nesses filmes: o papel do herói solitário. Cumprindo seu dever ético, muitas vezes que lhe cai ao colo por acaso, pelo destino, o herói cumpre uma travessia, sempre física (por um espaço físico) mas também essencial, encontra no caminho com alguns amigos, se relaciona com uma ou outra mulher, mas sempre, pelas circunstâncias, acaba sozinho. Para cumprir o seu dever, imposto pelo destino (pelas circunstâncias), esse heroi torto deve acabar sempre sozinho. Alguns autores veem isso como uma certa ironia (a vida é um jogo que deve apenas ser jogado, nunca vencido), mas eu vejo essencialmente como uma melancolia, uma amargura, essa eterna deambulação desse forasteiro pelo velho oeste, solitária e sem rumo, mas, ainda assim, sempre ética. Os sete filmes são Sete Homens Sem Destino (Seven Men from Now), Entardecer Sangrento (Decision at Sundown), O Resgate do Bandoleiro (The Tall T), Fibra de Herói (Buchanan Rides Alone), Um Homem de Coragem (Westbound), O Homem que Luta Só (Ride Lonesome) e Cavalgada Trágica (Comanche Station), todos realizados entre 1956 e 1960.
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July 30, 2010
Entre 1956 e 1960, Budd Boetticher dirigiu um maravilhoso ciclo de sete westerns, todos interpretados por Randolph Scott, dos quais cinco (O Resgate do Bandoleiro / The Tall T / 1957, Entardecer Sangrento / Decision at Sundown / 1957, Fibra de Herói / Buchanan Rides Alone / 1958, O Homem Que Luta Só / Ride Lonesome / 1959 e Cavalgada Trágica / Comanche Station / 1960) foram produzidos por Scott e Harry Joe Brown e distribuídos pela Columbia. O primeiro filme da série, Sete Homens sem Destino / Seven Men from Now / 1956, foi produzido pela companhia Batjac de John Wayne e Um Homem de Coragem / Westbound / 1959 por Henry Blanke para a Warner que, tal como havia feito com Sete Homens sem Destino, se encarregou da distribuição. Entretanto, costuma-se denominar o ciclo pelo nome da companhia de Scott e Brown, a Ranown, alusão ao nome do ator (Ran) e ao de Harry Joe Brown (Own), porque existem múltiplos elementos repetitivos ou semelhantes nos sete filmes, mais constantemente o tema da vingança.