Inazuma

Inazuma (Lightning)
de Mikio Naruse
***

Fiquei muito impressionado com esse singelo filme de Naruse chamado RELÂMPAGO (Inazuma), que assisti em casa no embalo da mostra de cinema japonês no MAM, que infelizmente não poderei continuar a frequentar. Lançado em 1952, mostra uma família no Japão do pós-guerra mas totalmente diferente da doçura dos dramas de Ozu: a dissolução familiar é vista pelo lado da cobiça, em que os membros de uma família se engalfinham para ter um pedaço do “seguro de vida” recebido por uma das filhas ao ficar viúva. O ponto de vista é absolutamente singular: acompanhamos pelo olhar de uma das filhas, Kiyoko, representada de forma brilhante por Hideko Takamine (que estrelou diversos outros filmes de Naruse), e percebemos, aos poucos, sua desilusão e seu distanciamento em relação a tudo isso. Ela não quer se casar com um homem mais rico e prefere sair dali e morar na periferia, num local mais bucólico. O tom que Naruse confere a este drama familiar é absolutamente notável, acompanhando o desencanto de Kiyoko com uma serenidade e um equilíbrio tipicamente japoneses. As soluções de mise-en-scene são sempre discretas mas formidáveis, optando por planos mais abertos, mesmo nos interiores, que dialogam com o distanciamento desses personagens. Essa tristeza em relação à cobiça de um Japão no caminho de suas “transformações modernizantes” é vista de uma forma pessimista, optando pelo isolamento ao invés do enfrentamento das questões. Essa serena desilusão é retratada por Naruse com seu costumeiro estilo “belamente simples”, mas aqui de justo impacto emocional.

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