Cada um vive como quer

Five Easy Pieces

De Bob Rafelson

DVD ter 27 21hs

***

 

Como um filme pode ser honesto? A primeira resposta que vem na nossa cabeça é quando pensamos em um filme que mostra personagens honestos, que não hesita em mostrar as carências e as dificuldades de seus protagonistas. Mas quando pensamos num “cinema independente”, ou seja, num cinema que “se quer independente”, o conceito de cinema honesto, ainda mais quando pensamos num filme americano, é aquele que faz com que as suas carências de produção se tornem recursos de estilo, que encare essas carências como virtudes, e a partir delas, elabore um conceito de cinema e de vida. Ou seja, um “filme honesto” é aquele que acima de tudo “encena de forma honesta”, ou que busca a partir da encenação e do uso da linguagem uma forma de abraçar a essência do filme ao invés de mascarar seus possíveis pontos fracos para seduzir o espectador (pois sabemos que o cinema é muito sedutor e que é razoavelmente simples seduzir o espectador).

 

Five Easy Pieces é um filme simples sobre a dúvida, e a encenação mergulha nessa dúvida junto aos personagens, mas o diretor não toma partido.

 

Five Easy Pieces é tbem (e pra mim essencialmente) um filme sobre a dificuldade de se mostrar os sentimentos, é sobre uma pessoa que não sabe como expor os sentimentos, especialmente porque simplesmente não sabe bem o que sente, porque tem medo de mostrar o que sente, ou porque está cansado de mostrar o que realmente sente e não ser compreendido, ou coisas do tipo, porque no fundo não sabemos muito bem porquê.

 

Tem uma cena fantástica quando Jack Nicholson toca para Katherine, e ela chora de tanta emoção, e ele diz que simplesmente não sentiu nada. Ele simplesmente se concentrou nas peças e as tocou. Então como é que ela pôde extrair um sentimento?

 

É um filme tbem sobre os Estados Unidos dos anos setenta. O Jack Nicholson não quer viver com a hipocrisia da decadente família de pianistas mas tbem não quer viver a vida de operário num trailler com um bando de filhos e indo no boliche no final de semana. Então o que resta a ele? O que ele pode ser?

 

Ou seja, no final das contas, Five Easy Pieces acaba sendo um filme sobre a liberdade, ou sobre a impossibilidade de sermos totalmente livres. Mas o que me impressionou é essa “liberdade triste” na encenação, que é uma coisa bem desse cinema americano da época.

 

Não estou muito sóbrio (acabou Alemanha x Argentina), mas é mais ou menos isso o que acho nesse instante sobre o filme. Vou tentar me expressar melhor depois.

Comentários

Postagens mais visitadas