Nada me atraiu o interesse em Rio, de Carlos Saldanha, um pára-institucional da cidade do Rio de Janeiro, na trajetória de realização de eventos de grande porte, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Em termos narrativos, o filme me pareceu uma mistura diluída das estratégias de Procurando Nemo e Toy Story. Mas, voltando um pouco atrás, existiu uma, uma única cena, em que o filme me cativou. É quando a mulher estrangeira, dona do pássaro, está no alto do carro alegórico de uma escola de samba em plena Sapucaí, e um diretor de harmonia brasileiro pede para ela sambar. Ela naturalmente não consegue requebrar. Então ela percebe que seu amado pássaro está lá embaixo na pista e tenta descer pelo carro alegórico. Para descer pelo carro, ela precisa enfrentar a topografia irregular da superfície do carro, cheia de altos e baixos. Enquanto desce, ela acaba requebrando de uma forma possível. Ou seja, ela tem uma aula prática do que é o samba. Monarco dizia que as passistas da Mangueira sambam de uma forma diferente das do Borel, porque a geografia dos dois morros é diferente. No dia-a-dia, enquanto elas descem ou sobem o morro, equilibrando-se de pedra em pedra, elas estão inventando uma forma de sambar. A beleza da assimetria do samba é a mesma dessa realidade desigual: é o balanço do dia-a-dia e da topografia do morro. Quando a gringa do filme Rio desce o carro alegórico, ela procura seu amor: ela inventa uma forma de sambar. Ali, Carlos Saldanha (ou seus roteiristas) conseguem traduzir em termos visuais e narrativos uma experiência íntima do que é o Carnaval e o Rio de Janeiro, para além das representações estereotipadas da cidade-evento em busca de patrocínio$$$ e turista$$$.

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