Nesses últimos vinte dias, um enorme conjunto de sensações vem me envolvendo. Copa do Mundo, fim do semestre, universidade, provas, alunos, namoro, editais, livro, palestras, textos, filmes, mostras de cinema, um misto de coisas se avoluma em mim sem que eu consiga dar conta de tudo que passa. Um conjunto maluco de sensações, entre a euforia e a frustração, entre o desejo e a dor. Às vezes me dá uma enorme vontade de gritar ao mundo a minha alegria por conseguir produzir tanto; às vezes um enorme cansaço quase me impede de levantar da cama; às vezes uma vontade de dar um soco de tanta raiva por algumas picuinhas e puxadas-de-tapete; às vezes, uma vontade de apenas ficar em silêncio. Só sei que o tempo não para, e, pessoal e profissionalmente (não sei a diferença disso), as coisas vão se atravessando em mim, em meu espírito, em minha mente, em meu corpo, em meu peito. Essas tristezas e decepções, essas euforias e conquistas, vão se confundindo e se misturando. Tanta coisa por fazer! Como pode tanta solidão conseguir mover tanta coisa! Pela casa, vou caminhando no meu ateliê (o ateliê é minha casa e a minha casa é o ateliê) e, entre delírios e reflexões, vou tentando me concentrar para tentar preencher os vazios (os vãos, em vão), ligar os pontos, descobrir o que está escondido por trás das coisas, aquilo que falta, aquilo que teima, aquilo que queima. O que se move. O que me move. Caminhando em círculos na minha casa, no meu ateliê, através dos cômodos, vou costurando à mão os nós de minha vida. É assim que subitamente, de uma forma que não consigo muito bem explicar, surge um momento de epifania, de criação. Quando estou em casa, curvado para dentro do interior de mim, refletindo sobre como os raios de luz, as brisas de afeto ou os socos e pontapés atingem o meu casulo, vão surgindo coisas que me afetam (que me movem). É assim que crio. Fico pensando se, nesses momentos, há algo que se move em mim. Se nesse momento ínf(t)imo, há algo que se move no meu corpo, se meu ombro mexe, minha sobrancelha, sei lá, alguma coisa. Ou se há algo na minha casa que se mexe. Os (i)móveis, os objetos continuam ali, mas talvez nesses momentos alguma brisa possa invadir os cômodos, que possa conferir algum micromovimento às coisas. Movimento tão sutil e passageiro que nunca consigo percebê-lo bem, ainda que eu me dedique a vida inteira a tentar observá-lo em mim.

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