O homem dos bons encontros
O CINEOP, Mostra de Cinema de Ouro Preto, está realizado uma homenagem ao cineasta Luiz Rosemberg Filho. Me pediram para escrever um pequeno depoimento sobre o "Rô". Eis o texto para o catálogo da Mostra...
O homem dos bons encontros
Eu me lembro bem da primeira vez que conheci o Rosemberg.
Foi há exatos 10 anos, em 2004. Claro, eu já o conhecia, pelos filmes, pelo
livro do Godard e por uma ou outra aparição. Melhor dizendo então, quando nos
encontramos pela primeira vez. Foi na Livraria Prefácio, em Botafogo, onde nos
encontraríamos muitas vezes depois. Fui com o Guilherme Whitaker, para lhe
propor ser o homenageado da Mostra do Filme Livre em 2005. Ele achou engraçado,
a princípio disse que não aceitava o convite, pois havia outras pessoas mais
importantes para serem homenageadas, como Andrea Tonacci, Sergio Santeiro,
Mario Carneiro, entre alguns outros nomes. Com a nossa insistência, nos perguntou
porque achávamos que ele deveria ser homenageado.
Em seguida, o Rosemberg deslocou a conversa e fez um
movimento típico de sua atuação no cinema e na vida: quis saber mais sobre nós.
Falamos um pouco e no meio do papo Rosemberg descobriu que todos os curadores
da Mostra também éramos realizadores. Ele então de imediato quis ver os nossos
filmes. "É a melhor forma de conhecê-los". Na semana seguinte,
Rosemberg visitou a sede da WSET em Botafogo para ver os nossos filmes.
Pacientemente ele viu todos os curtas. O meu foi o "Cinediário". Para
minha surpresa, ele não só o elogiou bastante, como, na semana seguinte, me
mandou uma longa carta me parabenizando pelo curta, e, em anexo, um texto
crítico sobre o "Cinediário", com uma de suas colagens. A partir daí,
fomos trocando correspondências, nos encontrando e - se não for uma ousadia de
minha parte - nos tornando amigos.
Rosemberg é mais conhecido pela sua virulência contra a
boçalidade que se tornou a maior parte do audiovisual produzido não só no
Brasil mas no mundo. Contra um cinema que virou mero instrumento de negócio nas
mãos de grandes corporações. Mas seu ataque frontal a um certo cinema sempre
vem acompanhado de uma grande afetividade, pela busca de uma forma de criar e
de viver, visando ao prazer e ao amor. Rosemberg sempre defendeu que as grandes
corporações querem transformar o cinema numa arma contra o gozo, o sentido
último da vida. Seu cinema político, portanto, sempre foi uma forma de defender
a liberdade e o amor.
Rosemberg sempre foi o homem dos bons encontros. No cinema e
na vida.
Sem nunca se corromper, sem vender seus ideais por algumas
quinquilharias, sem entrar no jogo sujo do poder, Rosemberg comprova não só em
seus filmes mas no exercício de sua própria vida, a integridade dos seus
ideais. Fez, talvez por isso, menos filmes do que gostaria, mas aqueles que
conseguiu fazer, com os recursos que eram possíveis, são uma notável
contribuição a nossa mais arrojada filmografia. E permanece produzindo até
hoje, um sem-número de curtas em video. BAN-ZAI!!!
Nos últimos anos, uma geração vem redescobrindo a importância
dos filmes e da posição ética de Luiz Rosemberg Filho. Fico feliz que, em vida,
Rosemberg tenha cada vez mais reconhecimento, e que isso sirva para que ele
faça ainda mais filmes, e tenha ainda mais bons encontros. BAN-ZAI!!!
O Rosemberg sempre me dizia que achava engraçado que
eu trabalhasse na ANCINE. Ele também havia trabalhado no Instituto Nacional do
Cinema (INC) e às vezes me contava algumas histórias sobre o dia-a-dia na
repartição e alguns casos com o Moniz Viana. Ele disse que, quando saiu do INC,
a primeira coisa que fez foi dar um mergulho no Arpoador, de terno e gravata.
Quando coloquei o pé direito fora da ANCINE, me lembrei disso, mas,
diferentemente dele, simplesmente respirei fundo, fui para casa e arrumei as
malas.
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