Para além de massagear o nosso ego, é preciso destacar que a seleção do incrível POUCO MAIS DE UM MÊS, de André Novais, para o prestigioso Festival de Cannes, ajuda a derrubar alguns preconceitos sobre o cinema brasileiro “que pode ser exportado”. Nada há no filme de “tipicamente brasileiro”, ou seja, que ecoe aquele acento regionalista brasileiro, visto através de uma exploração da paisagem, da política, da miséria, enfim, do exotismo latino-americano. Além disso, nesse curta, não há os grandes valores de produção: é um curta realizado sem editais de fomento, com dois não-atores, quase todo passado num apartamento. De fato, nada há no curta de explicitamente extraordinário, além dele mesmo, dessa enorme consciência de seu trabalho cinematográfico, de sua profunda examinação da intimidade e da possibilidade de amar e de expor nossos sentimentos ao outro. Ou ainda, nada no curta berra gritantemente a sua genialidade, ou a sua submissão ao que se espera de um curta brasileiro num festival internacional de renome. Essa é sua enorme contribuição ao ser selecionado para a Quinzena de Cannes.

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