02 / 11 / 20 12

Está difícil dormir depois de ter visto O QUE SE MOVE há alguns dias. O que dizer? Não sei se é o melhor filme brasileiro dos últimos anos – até acredito que O SOM AO REDOR seja melhor como filme. Só sei que eu não consigo mais dormir depois de ter visto esse filme, pois não sei mais quem sou. Diante de tudo, é preciso olhar com delicadeza o mundo. É um filme sobre a São Paulo de hoje, mas é também um filme sobre o mundo de sempre. Devemos deixar a dor decantar, mas não é possível esquecê-la, apagá-la. Mas como Gotardo realizou essas intenções? Há uma ingenuidade que me interessa muito nesse filme. Uma aposta muito radical num certo cinema que reconfigura nosso olhar para o mundo. Existe um enorme rigor e uma forte marcação no filme – por exemplo, nos diálogos dos atores. Por outro lado, há um descontrole. Há algo que a decupagem e o roteiro não conseguem dar. É essa “gestão do descontrole” ou – se preferirem – esse “descontrole da gestão” que dá ao filme a sua potência. Há algo muito íntimo que só se dá ali, nesse encontro entre a câmera e o rosto dos atores. Nós somos testemunhas, cúmplices desses momentos. O imprevisível, o imponderável, o indizível – o sublime – que acontece ali naquele momento, e que não dá para definir. Isso é lindo, porque mais do que estratégia de encenação – mais do que “dispositivo” que transita entre o encenado e o “real” – fala da essência do filme: esse descontrole, esse imponderável que pode assolar a nossa vida a qualquer momento. Essa dor enorme que pode nos invadir de repente, estejamos preparados ou não. Assim como na vida, no cinema, o diretor não consegue ter total controle sobre seu filme. Ele se abre, então, generosamente, para esses momentos. Momentos sublimes; momentos de dor.

Comentários

George Luis disse…
Espero muito conseguir assistir este filme!!!

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