Allen não é um cineasta passadista. O que é comovente em seus filmes recentes é seu desejo de “empurrar sua filmografia para frente”, sempre para frente. Já havia falado sobre isso em Whatever Works. Em Meia-Noite em Paris, Allen busca um maior equilíbrio entre seus filmes “europeus” e os “americanos”. Revisitando coisas que já fez, mas sempre com o desejo de “empurrar sua filmografia para frente”. Desejo obsessivo (filma praticamente um filme por ano), compulsivo, admirável, coerente. Mas, como estávamos dizendo, Allen não é passadista. Não está interessado em “colher os frutos ou os louros de ser um cineasta reconhecido”, mas é como se para ele estivesse apenas começando com “a mesma” energia de trinta anos atrás. Isso é admirável. Não quer confirmar seu estilo repetindo-se, mas repete apenas para avançar, nunca para se acomodar. Essa sutil diferença entre “repetir-se olhando para trás” e “repetir-se olhando para frente” é que acho formidável. Para mostrar que Allen não é passadista, nada melhor do que fazer um filme situado nos anos trinta, em que um personagem vai para os anos trinta. Lá o mundo era muito melhor, mais divertido, mais inteligente, menos fútil. Whatever Works começa com uma furiosa declaração de princípios, com um personagem alter-ego vomitando verdades para a câmera, de como o mundo está “disgusting”. Em Meia-Noite em Paris também não se gosta do mundo como está. Mas mesmo não sendo como gostaríamos, é preciso vivê-lo. Resta-nos outra alternativa? Mas para Allen, a alternativa não é refugiar-se no passado, ou vender-se (tornar-se roteirista de televisão). Ou ainda, a saída não é acomodar-se. Qual é? É trabalhar, tentar ser honesto, amar, andar pelas ruas e ver o mundo. Pode soar clichê ou ligeiramente piegas, para Allen não importa. Para ele, o que importa é apegar-se ao pouco que se tem mas transformando e remodelando esse mesmo material. Aos 75 anos, trabalhando desde os 15, Allen tem um espírito jovem. E isso ilumina.

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